O terrorismo em Paris, até por ser precisamente em Paris, tinha de ter uma qualquer ligação a Portugal e aos portugueses. Ismael, o filho da senhora da Póvoa de Lanhoso emigrada para França ainda jovem, é o nosso glorioso traço de parentesco com os atentados de sexta-feira 13.
Tantos anos andámos numa excitação desenfreada com o filho do emigrante que ganhou a medalha de bronze num campeonato de tiro aos pratos na Albânia ou com a meia-sobrinha de um natural das Caldas que vendia refrescos em Times Square, que agora acabaria por nos sair um criminoso a sério para manchar a diáspora. Não é sabido se, de visita a Portugal, terá Ismael passeado a sua fé muçulmana pelas encostas do Gerês ou disseminado a semente do islão entre a juventude lanhosense. E ainda bem que nos poupam a pormenores.
A verdade é que a incontornável tendência para nos julgarmos no centro do mundo é susceptível, nestas alturas, de nos deixar sem palavras. Não tanto pela vergonha, mais por percebermos que a modernidade e a globalização também nos atiram para o centro de alguns problemas sérios. Nada de andarmos a fechar fronteiras; a abertura faz parte da nossa cultura e é o que nos valoriza onde quer que estejamos.
A Póvoa de Lanhoso é uma terra fantástica, numa das zonas mais bonitas do Norte do país e com uma imensa história, aliás anterior à própria nacionalidade (foi ali que D. Afonso Henriques prendeu a mãe). A Póvoa de Lanhoso não tem culpa nenhuma da intervenção de Ismael nos crimes terríveis de Paris. Por muito que nos custe ao ego, vamos supor que os genes do pai argelino eram bem mais fortes e marcantes do que os da mãe portuguesa.
Escreve à quinta-feira