Ainda não ganharam as eleições nem ocupam a cadeira de Belém, mas os candidatos às presidenciais têm uma certeza: manter o executivo demitido de Passos Coelho em gestão até ao início do próximo Verão é uma carta que deve estar fora do baralho de Cavaco Silva. A hipótese de o Presidente manter PassosCoelho à frente do governo ganhou força quando Cavaco, na Madeira, lembrou que enquanto primeiro-ministro esteve cinco meses em gestão, em 1987, e garantiu que Portugal tem uma “almofada financeira” que afasta, para já, grandes preocupações com o impasse político criado.
A nove semanas das eleições, os candidatos às presidenciais colocam-se no papel de eleitos e vão clarificando como podem, ou como querem, o seu posicionamento. Marcelo Rebelo de Sousa, candidato do centro-direita, lembrou ontem em Bruxelas que é “fundamental” o país ter um Orçamento aprovado “e, para isso, naturalmente que a conclusão deste processo de formação de governo também é fundamental”. Neste momento, e face ao clima que se vive no parlamento, só o PS é capaz de aprovar um Orçamento com os votos do BE, PCP e PEV e, assim, evitar que o país seja governado em duodécimos mais de metade do ano – já que as eleições só podem ser marcadas para o início do Verão.
Em Bruxelas, o ex-líder do PSD não quis fazer grandes comentários sobre a vida política nacional, mas em Outubro, numa acção de campanha no Mercado Ferreira Borges, foi claro.“Nenhum país pode viver seis, sete, oito meses sem Orçamento aprovado”, afirmou, no que foi lido como um não a manter em funções um executivo rejeitado em São Bento. “As portuguesas e os portugueses votam. O parlamento reflecte essa participação. Seguindo a natural ordenação dos votos, o PR deve procurar a solução mais viável e duradoura”, afirmou.
Esta é, de resto, a posição de Henrique Neto. O ex-dirigente do PS e candidato presidencial clarifica ao i que a alternativa de Cavaco, agora que o PS se uniu ao BE, PCP e PEV para derrotar a direita, é dar posse a António Costa. “Só não percebo do que é que oPresidente está à espera. Ele cometeu erros sucessivos e a consequência foi a divisão do país ao meio. Dividiu a sociedade portuguesa devido à forma como geriu este processo”, acusa.
Também Maria de Belém olha para o relógio e nota que o tempo urge. A candidata à sucessão de Cavaco defendeu ontem a “urgência” de Portugal ter um governo em plenitude de funções. E lembrou que “existe uma maioria parlamentar absoluta liderada pelo segundo partido mais votado [PS]”. Belém garantiu ainda que chamará Costa para formar governo, se Cavaco prolongar o mandato do governo da coligação e se a própria vencer as eleições.
Para Marisa Matias, “é cada vez mais difícil compreender a perda de tempo a que o Presidente está a submeter o país”, deixando duras críticas às “declarações absolutamente incendiárias como a comparação absurda que fez a respeito da sua experiência com governos de gestão, dando a entender que essa situação não traria nenhum problema ao país”. A candidata que corre com o apoio do BE alinhou na pressão sobre Cavaco para dar posse a um governo liderado por Costa. “Os portugueses votaram e elegeram uma Assembleia da República. Desrespeitar essa decisão constituiria um precedente gravíssimo na nossa democracia”, escreveu em comunicado.
Também Sampaio da Nóvoa deixa alertas que seguem para Belém. O ex-reitor sublinha que “manter um governo de gestão não é decisão nenhuma”. Para o candidato, “havendo um acordo de maioria parlamentar, seja ele qual for”, a solução “é dar posse a esse governo e depois deixar decorrer o normal curso da vida política portuguesa”. Com Luís Claro