Jorge Silva Carvalho foi ouvido como arguido no julgamento do processo das secretas, relacionado com a intercepção da facturação detalhada das comunicações de Nuno Simas
O ex-director do SIED Jorge Silva Carvalho revelou esta quinta-feira que aqueles serviços realizaram uma operação para "apurar a totalidade das fontes" do jornalista Nuno Simas, que no Verão de 2010 escreveu sobre as secretas.
Ouvido como arguido no julgamento do processo das secretas, relacionado com a intercepção da facturação detalhada das comunicações de Nuno Simas, o ex-director do SIED assumiu que "tomou uma decisão" quanto ao caso e transmitiu a determinação aos seus subordinados, mas que o próprio secretário-geral do Sistema de Informações da República Portuguesa (SIRP), Júlio Pereira, tinha conhecimento do procedimento.
Antes da operação se iniciar, relatou, teve reuniões com directores de vários departamentos e também com Júlio Pereira, que ter-se-á oposto a que fosse apresentada uma queixa à Polícia Judiciária, dizendo: "Quer meter a PJ nisto?".
Sobre o caso que envolve Nuno Simas, o ex-director do SIED disse ter avançado com as "medidas necessárias", justificando que a operação para detectar as fontes do jornalista obedeceram a "procedimentos habituais" nos serviços de informações.
Salientou que os serviços de informações tinham uma "panóplia" de fontes junto das operadoras de telecomunicações. "Os serviços têm fontes em todas as [operadoras de] telecomunicações", frisou.
Silva Carvalho revelou ainda que foi o ministro Miguel Relvas que lhe forneceu o número de telefone de Nuno Simas, mas só depois do governante ter falado com o próprio jornalista.
"Já fui muito mais longe do que esperava", desabafou o ex-director do SIED, que inicialmente invocara o segredo de Estado para não aprofundar a questão relativa ao jornalista, mas que a juíza considerou não estar abrangido por essa restrição.
O arguido justificou que seguiu o caminho indicado pelo tribunal, mas que entende que algumas questões, incluindo que há fontes nas operadores de telecomunicações, é uma que está em segredo de Estado.
Jorge Silva Carvalho e João Luís, também dos serviços secretos, estão acusados por acesso ilegítimo agravado, em concurso com um crime de acesso indevido a dados pessoais e por abuso de poder.
Nuno Simas escreveu, jornalista do Público à data dos factos, publicou notícias sobre problemas internos do SIED, tendo hoje Silva Carvalho assegurado que sabia que a notícia esteve inicialmente para ser divulgada na revista Sábado.
O "ex-espião" foi ainda pronunciado por um crime de violação de segredo de Estado e por um de corrupção passiva para acto ilícito. Nuno Vasconcellos está acusado por um crime de corrupção activa para acto ilícito.
Nuno Dias, está acusado por acesso ilegítimo agravado e a sua companheira Gisela Fernandes Teixeira por acesso indevido a dados pessoais e um crime de violação do segredo profissional.
No processo, o MP sustenta que Nuno Vasconcellos decidiu contratar Jorge Silva Carvalho para os quadros da Ongoing, para que este último obtivesse informação relevante para aquele grupo empresarial, através das secretas.
Lusa