Cavaco Silva é um especialista em tabus. Basta recuar uns anos e percebermos como gosta de gerir a comunicação, dando, muitas vezes, sinais contrários para depois decidir e, entretanto, ocupar os nossos ilustres comentadores.
Em alguns casos, a situação até pode ser politicamente interessante.
Devo, no entanto, confessar que neste caso me parece mais nefasta.
Na verdade, esta incerteza não é seguramente um bom contributo para uma economia frágil e em que o governo continua a ser decisor dos mais ínfimos pormenores da nossa vida; prolongar esta situação é também contribuir para um aumento da conflitualidade política, o que ninguém deseja.
Urge, por isso, clarificar o actual estado político, antes que se assista ao caricato de termos um executivo eleito a governar com as leis dos derrotados; ou, pior, um concurso de quem nos vende as medidas mais favoráveis, parecendo ignorar-se que “a arte de agradar muitas vezes encobre a arte de enganar” (máxima hassídica).
É que para concurso, e pouco recomendável, já basta o que os media nos oferecem, mera expressão da síndroma do microfone: os candidatos a cargos governamentais a oferecerem-se na praça pública.
Esperamos, pois, pela decisão do Presidente – de preferência, não muito –, sabendo que ela terá sempre custos que serão manifestamente suportados por nós.
Neste ponto manter-se-á seguramente a tradição.
Professor da Faculdade de Direito de Lisboa. Jurisconsulto
Escreve quinzenalmente à quarta-feira