Guerra ao ISIS. Hollande e Putin unidos para coordenar “frente global”

Guerra ao ISIS. Hollande e Putin unidos para coordenar “frente global”


Presidente francês vai a Washington e Moscovo forjar aliança. Kerry diz que pode haver cessar-fogo dentro de semanas.


É a primeira tentativa de formar uma aliança militar inédita. Os fantasmas da Guerra Fria travada há algumas décadas entre a URSS e o Ocidente, que continuam a atormentar os dirigentes políticos e militares mundiais até hoje, parecem estar a ser enterrados à força porque hoje a guerra ideológica a travar é de outra espécie, e França e a Rússia sabem-no. 

Ficaram a saber depois dos atentados da fatídica sexta-feira 13, em que 132 pessoas foram mortas por terroristas do autoproclamado Estado Islâmico em sete ataques distintos levados a cabo em Paris. E Moscovo parece agora confirmar o que o Reino Unido já apontava há algumas semanas, a propósito de a queda do voo russo a 31 de Outubro na península do Sinai ter sido outra obra do Daesh. As 224 pessoas, todas as que seguiam a bordo do avião, morreram.

Ambas golpeadas pelo grupo sanguinário, França e Rússia decidiram juntar-se depois de meses de bombardeamentos autónomos contra bastiões do Daesh no Iraque e na Síria. Num telefonema ontem à tarde, François Hollande e Vladimir Putin discutiram os passos a dar a seguir, isto apenas algumas horas depois de as forças militares dos dois países terem lançado novos ataques em Raqqa, a capital de facto do pretenso califado islâmico na Síria, proclamado em Junho de 2014. Ambos querem ampliar a estratégia de bombardeamentos, criando uma “frente comum armada” contra os jihadistas que integre todos os países, sobretudo os Estados Unidos.

Encontros A discórdia em relação a quem deve liderar a Síria – depois de quase cinco anos de contestação a Bashar al-Assad, aliado de Putin, que não arredou pé – ficou para segundo plano. Neste momento Putin já deu ordens à Marinha de que “estabeleça contacto directo com os franceses e trabalhe com eles” assim que o porta-aviões Charles de Gaulle atracar no Mediterrâneo. Isto após anunciar, ontem de manhã, que redobrou os meios militares mobilizados para a Síria.

“Estamos a conduzir uma campanha aérea em grande escala contra alvos do Daesh na Síria”, disse o ministro russo da Defesa, Sergei Shoigu, num encontro de altas chefias militares em Moscovo. “Acabámos de duplicar os meios, o que está a permitir-nos conduzir operações a todo o comprimento e largura do país.” Nos bombardeamentos levados a cabo entre segunda à noite e ontem, a Rússia usou mísseis cruzeiro contra Raqqa. O“Le Monde” citava ontem de manhã fontes do governo francês a confirmarem que os mísseis russos atingiram várias posições do Daesh na cidade síria e Moscovo deu a conhecer aos norte-americanos os seus planos antes de lançar os ataques – mais um sinal de aproximação dos arqui-rivais após a cimeira do G20 este fim-de-semana.

Hollande – que ontem de manhã pediu em Bruxelas que os outros 27 estados-membros da UE dêem todo o apoio militar e logístico a França na guerra contra o Daesh – já tem marcadas viagens a Washington e a Moscovo na próxima semana para avançar com a frente global militarizada, depois de ontem ter recebido o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, no Eliseu. Citado pela Associated Press, o número dois da administração Obama disse que um “potencial cessar-fogo” na Síria, com a suspensão dos ataques às forças de Assad e destas a rebeldes moderados, pode estar concluído “dentro de semanas”.

Detenções À medida que as horas avançam desde a fatídica sexta-feira 13, França tem reforçado os bombardeamentos contra bastiões do Daesh no Médio Oriente. Durante a noite de segunda para ontem, a polícia conduziu “dezenas de operações antiterrorismo”. Sete dos terroristas morreram nos atentados, entre eles Ismaël Omar Mostefai, filho da portuguesa Lúcia Moreira, natural da Póvoa de Lanhoso que emigrou ainda criança para França, onde casou com um cidadão argelino.

A par das operações de segurança em França, onde continua o estado de emergência, e na Bélgica, ontem a Alemanha anunciou ter detido cinco suspeitos de ligações aos atentados de sexta em Paris. Três deles, duas mulheres e um homem, são cidadãos estrangeiros e foram detidos por uma equipa das forças especiais nos arredores de Aachen (Aix-la-Chapelle), perto da fronteira da Alemanha com a Bélgica e a Holanda.

“Após os ataques terroristas em Paris, e a busca dos perpetradores e dos que comandaram, a polícia de Aachen recebeu uma pista que a levou a indivíduos suspeitos em Alsdorf”, avançou a polícia alemã em comunicado, recusando-se a tornar públicas as identidades ou origens dos suspeitos até a investigação estar concluída. 

Nesta caça aos terroristas, continua em marcha a operação para encontrar Salah Abdeslam, francês nascido na Bélgica, de 23 anos, que se suspeita que tenha escapado para o país onde cresceu após os ataques de sexta, nos quais dois irmãos seus morreram. OMinistério do Interior da Áustria já confirmou que Abdeslam entrou no país vindo da Alemanha no início de Setembro, dizendo às autoridades que viajava em férias. França está ainda à procura de um segundo fugitivo, avançaram fontes oficiais à Associated Press.