Aborto, dívida, drogas e governo de esquerda são entradas no dicionário do BE

Aborto, dívida, drogas e governo de esquerda são entradas no dicionário do BE


O livro “Dicionário do Bloco de Esquerda”, a ser apresentado em Lisboa na quinta-feira, compila várias palavras e expressões através das quais o Bloco “concebe o mundo e se exprime”.


Coordenada pelo deputado bloquista José Soeiro e pelo dirigente do partido João Teixeira Lopes, a obra – editada pela Figueirinhas – é prefaciada pelo fundador do Bloco Fernando Rosas e a primeira entrada cabe à palavra aborto.

"O Bloco de Esquerda nasceu da derrota no primeiro referendo à despenalização do aborto, realizado em 1998. Esta derrota deixou clara a urgência de um novo partido político, que conseguisse juntar diversas tradições da esquerda e activismos sociais num projecto capaz de superar as divisões históricas que restavam dos tempos da guerra fria", diz Andrea Peniche, responsável pela entrada.

Ao longo de cerca de 150 páginas são dezenas as entradas no dicionário, predominantemente termos ligados à organização do partido e outros envolvendo as causas maiores do BE.

Drogas, feminismo, trabalho, praxes, dívida e serviços públicos são algumas das entradas referentes às causas bloquistas, mas um dos maiores destaques é a parte com o título "Governo de esquerda".

O segmento, assinado pelo dirigente e deputado Jorge Costa, começa por lembrar que na sua primeira candidatura a eleições legislativas, em Outubro de 1999, o Bloco lançou o manifesto "É tempo de ser exigente" onde explicava ao que vinha.

"Apresentamo-nos ao país com um manifesto eleitoral e não com um «programa de governo». A escolha é propositada. Apresenta um «programa de governo» quem fixe como objectivo participar na governação dos próximos quatro anos ou se afirme como alternativa de governo. Como o BE não se encontra em nenhuma das duas situações, este documento deve ser lido como um programa de oposição", dizia o texto de 1999.

A entrada prossegue com referência aos textos com que o Bloco se apresentou a vários sufrágios: em 2009, por exemplo, o partido continua a apresentar-se como "candidato à oposição", reconhece Jorge Costa.

A VI Convenção do partido, em Fevereiro de 2009, aprova um texto advertindo que o Bloco não participaria num governo com o PS "porque os programas são contraditórios. Nem aceitará nenhuma colaboração com um governo, do PS ou do bloco central, porque quatro anos de governo Sócrates demonstraram que essas políticas têm que ser vencidas".

E prossegue Jorge Costa na sua análise: "Na sua primeira década de existência, o Bloco manteve portanto o essencial das suas posições originais sobre a questão do governo. Será a transformação qualitativa da crise económica e as suas repercussões políticas, na assinatura do memorando com a ‘troika' em 2011, que levam o Bloco a mudar o discurso".

Em 2011 o BE viria a utilizar pela primeira vez a expressão "governo de esquerda", identificada com medidas essenciais", sendo "a mais importante" a renegociação da dívida.

O texto de Jorge Costa e os demais artigos do dicionário foram escritos antes da campanha eleitoral para as legislativas de 04 de Outubro, antes portanto das negociações que após o sufrágio o PS e demais forças políticas à esquerda mantiveram para a viabilização de um executivo.

"Dicionário do Bloco de Esquerda" será apresentado em Lisboa na quinta-feira, pelas 21:00, numa sessão com a presença da porta-voz do partido, Catarina Martins.

Esta obra insere-se numa colecção de dicionários de História Partidária da editora Figueirinhas.

A colecção "tem como objectivo convocar a história do Portugal democrático nascido do 25 de Abril", arranca agora com o dicionário do BE e terá "escritos para militantes e público em geral" sintetizando os "últimos 40 anos da vida política em Portugal do ponto de vista do interior das forças partidárias que confluíram nas actuais representações parlamentares".

Lusa