A coligação fantoche montada no Verão de 2014 pelos EUA e vários países árabes sunitas, como a Arábia Saudita, a que se juntou recentemente a Turquia, mais não é que um enorme escudo protector dos bárbaros do Estado Islâmico. Os relatos periódicos dos bombardeamentos norte-americanos não têm afectado minimamente a actividade dos jihadistas. Pelo contrário, a sua ofensiva no Iraque e na Síria continua a intensificar-se e as únicas derrotas conhecidas aconteceram no Iraque com a perda de Tikrit devido à intervenção de milícias iranianas ao lado das forças iraquianas. Em território sírio, por exemplo, os bárbaros jihadistas tomaram Palmira e mostraram ao mundo como estavam a destruir essa cidade histórica. Tudo isto aconteceu com as supostas bombas norte-americanas a fustigarem as posições terroristas. Para grande pânico de Washington, tudo começou a mudar em Setembro deste ano. Primeiro a França e depois a Rússia começaram a bombardear o Estado Islâmico na Síria. Se a decisão de Paris não mereceu grandes comentários da administração norte-americana, a entrada em força de Moscovo no conflito fez soar as campainhas de alarme na Casa Branca. Percebe-se porquê. Os objectivos da coligação-fantoche iam começar a ser desmascarados. Em pouco mais de um mês, a eficácia dos ataques franceses e russos suplantou em muito os milhares de bombas que o Pentágono anda a anunciar há mais de ano e meio. Os responsáveis americanos andam desde Setembro a condenar a intervenção russa e atacam Putin por estar essencialmente a defender o seu aliado de sempre, o presidente sírio Assad. É verdade.
Enquanto os Estados Unidos e os seus aliados ocidentais, França incluída, embandeiraram em arco com a Primavera Árabe e com o derrube de Ben Ali na Tunísia, de Mubarak no Egipto e Kadhafi na Líbia, Moscovo esteve sempre ao lado do regime sírio, que está há quase seis anos em guerra civil. A política externa ocidental revelou-se um autêntico desastre. A Tunísia conseguiu reverter a situação e tem hoje de novo um regime laico, o Egipto expulsou do poder a Irmandade Muçulmana ao fim de um ano, a Líbia deixou de ser um estado para se transformar num santuário terrorista e a Síria vive uma guerra civil que já matou mais de 200 mil pessoas e provocou o êxodo de mais de 4 milhões de sírios, que hoje estão espalhados pelo Líbano, pela Turquia e entram aos milhares na Europa. Derrotada em toda a linha a política externa norte-americana, Obama depositou sempre grandes esperanças em derrubar Assad para tentar salvar uma face suja de tanta asneira. A verdade é que o Estado Islâmico, financiado pela Arábia Saudita, é a arma de arremesso dos sunitas contra os xiitas do Irão, da Turquia contra os curdos e dos norte-americanos contra os russos e o seu aliado Assad. Os países que verdadeiramente combatem os bárbaros jihadistas têm pago um preço elevado pela sua determinação e coragem. A Tunísia sofreu dois atentados terroristas este ano com dezenas de mortos. O Egipto luta na península do Sinai contra os terroristas e sofre atentados todos os dias. Um avião russo foi alvo de um recente atentado no Egipto, que provocou a morte de mais de 200 pessoas. E sexta-feira, em Paris, o mundo assistiu ao ataque terrorista que matou mais de 120 pessoas, depois dos atentados de Janeiro ao “Charlie Hebdo”. É por isso que a guerra contra o Estado Islâmico só pode ter êxito se França se aliar à Rússia e ao Irão. O presidente dos Estados Unidos afirmou há dias que o Estado Islâmico estava controlado. Os milhares de mortos na Síria e na Tunísia, o avião russo abatido no Sinai e as mais de 120 pessoas massacradas em Paris mostram até que ponto Obama é um perigoso cabotino ao comando da maior potência do mundo.
Escreve à segunda-feira