Os atentados de 13 de Novembro foram pela primeira vez noticiados no Twitter. Quase uma hora depois, as televisões portuguesas começavam a falar sobre o assunto. As francesas há muito que o faziam. Amigos contaram que estavam num centro comercial e que, durante os ataques, fecharam as portas e as televisões foram desligadas, provavelmente para impedir outros terroristas de se juntarem à matança. Também os sites dos jornais franceses – em pleno ataque, o Le Monde parou – só começaram a dar notícias algum tempo depois da intervenção policial. Os amigos souberam o que se estava a passar porque amigos portugueses e argentinos telefonaram para saber se estavam bem.
A Portugal as notícias chegavam através do Twitter. Gostaria de agradecer a @DuarteLevy, que com coragem e sentido de dever partilhou no Twitter ao momento o que se passava nas ruas de Paris. De outro modo, muito mais subtil, registo o comportamento do melhor jornal do mundo, o @WashingtonPost, que se apressou a pedir desculpa por ter publicado um tweet com uma notícia sobre frivolidades num momento tão delicado. O jornal explicou que tinha desactivado a possibilidade que o Twitter oferece de planear as horas a que alguns tweets escolhidos são publicados. A gravidade dos atentados obrigava à concentração num único tema.
Fotografias de origem dúbia, algumas falsas, um tweet de Donald Trump de Janeiro sobre o atentado ao “Charlie Hebdo” a ser alvo de insultos, Mia Farrow a reagir a tweets de Newt Gingrich ou a eurodeputada Ana Gomes no seu mundo de causas são exemplos de descontrolo no Twitter. Reacções desequilibradas, quer de pessoas que se viram na obrigação de fazer piadas, quer de outras que as insultaram, quer das primeiras que acharam que era boa ideia partilhar os insultos, foram constantes durante a noite. Sei que o ser humano tem horror ao vazio, mas é errado banalizar acontecimentos de tamanha gravidade.
O que aconteceu em Paris a 13 de Novembro foi um ataque terrorista em seis pontos diferentes da cidade, de que resultaram 129 mortos, 350 feridos, 99 em estado grave. Pessoas que falam sobre um “ataque coordenado” que os serviços secretos “não conseguiram detectar” pensam que é preciso ser um génio para combinar uma chacina em seis sítios diferentes e que os serviços secretos são na verdade um bando de imbecis preguiçosos que nunca chegam a tempo. São elogiosos para os terroristas e implacáveis com a autoridade.
Mas a verdade é outra: não é preciso nada de especial para levar a cabo uma matança de inocentes. Pode-se inclusivamente ser completamente estúpido. Basta ter a convicção fervorosa e extremista de que é preciso morrer e matar o maior número possível de pessoas em nome seja do que for.
Desde 2001 que o mundo livre fala sobre as causas do terrorismo, sobre as culpas do Ocidente, sobre o ódio que os terroristas têm ao nosso modo de vida. As causas deixaram há muito de me interessar. Vejo qualquer explicação como um acto de cobardia. Há 15 anos que a barbárie vence a civilização: Nova Iorque, 2001; Madrid, 2004; Londres, 2005; Paris, 2015. Sim, o terrorismo venceu.
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