Primeiro é o Mundial 66, depois o Euro 84 e finalmente o Mundial 86. Durante dez anos, o pós-Saltillo faz mal à selecção. Não vamos a lado nenhum, acumulamos tristezas e mais tristezas. A caminho do Mundial 94, há o sonho americano: a duas jornadas do fim, só precisamos de ganhar 4-0 à Estónia na Luz e depois empatar em Milão. O que fazemos? Só damos três aos estónios e sucumbimos a cinco minutos do fim com um golo de Dino Baggio em fora-de-jogo. Ainda no relvado, Carlos Queiroz lamenta o estado da nação e fala de uma vassourada na porcaria.
No quadradinho seguinte, Queiroz out, António Oliveira in. Joga-se o apuramento para oEuro 96, o sorteio junta-nos a Áustria, Irlanda do Norte, República da Irlanda, Letónia e Liechtenstein. É desta? A estreia regista-se no centenárioWindsor Park, em Belfast, onde Eusébio é aplaudido de pé por largos minutos no aquecimento da selecção. O 2-1 materializado por RuiCosta e Domingos é escasso. “Tomara que criássemos sempre tantas ocasiões de perigo e concretizássemos sempre mais uma que o adversário”, reage Oliveira, que lança Sá Pinto.
Pouco mais de um mês depois, 3-1 em Riga na noite em que o seleccionador letão Janis Galis desabafa: “Gostei muito de João Pinto, mas esperava mais de Rui Costa.” Sempre a abrir, Portugal acumula a terceira vitória, em Alvalade, com um golo do sportinguista Figo aos 36’ (1-0 à Áustria). Antes, Oceano falhara um penálti. Acredite, o homem erra outro no 8-0 ao Liechtenstein, em Dezembro de 1994.
O primeiro baque produz-se em Dublin, com autogolo de Vítor Baía, um minuto depois de Ray Houghton ter acertado no poste. O resultado faz descer Portugal para o segundo lugar, a um ponto dos irlandeses, que empatariam em Vaduz (0-0) no dia em que Oliveira perde as estribeiras durante o 3-2 à Letónia, nas Antas. A saída de Paulo Sousa ao intervalo é péssima em termos tácticos. Num ápice, da tranquilidade do 3-0 para a aflição. “Devíamos ir todos presos por esta exibição vergonhosa; de positivo só o apoio do público e a vitória”, salienta o seleccionador.
Bem mais pacífica é a visita a Eschen:7-0 ao Liechtenstein, com hat-trick de Paulo Alves, saído do banco aos 54’ por troca comDimas. É o primeiro jogador desde Eusébio (5-3 à Coreia do Norte) a marcar três de uma assentada. É obra.
Encantados com o ambiente de festa proporcionado pelos 40 mil adeptos nas Antas, que até mete o hino “We are the Champions” antes do jogo, os jogadores portugueses trocam bem a bola com a Irlanda doNorte; esquecem-se é de rematar. Daí que sejamos apanhados em contrapé com um livre directo de Michael Hughes, em que a bola tabela em Paulo Sousa antes de trair o desamparado Vítor Baía (1-1).
Faltam dois jogos e bastam-nos dois pontos para o apuramento directo. Nada mau. Vamos ali a Viena e logo se vê. A entrada deles é de leão;Stöger (expulso em Alvalade) faz o 1-0. Ao intervalo, Oliveira faz entrar Folha e a selecção estica-se – que não ao comprido. O magnífico 1-1 de Paulinho Santos é uma jogada do além, com uma arrancada da linha lateral até ao remate cruzado, depois de passar por três adversários.
Um jogo, um ponto. O adversário é a Irlanda. A festa está pronta. Para delírio dos 71 766 espectadores na Luz. Ao intervalo, 0-0. Na segunda parte, uma chuva de golos. Primeiro um chapéu de aba larga de RuiCosta (60’). Depois canto de Folha e cabeceamento de Hélder (74’). Por fim, assistência de Folha e remate de Cadete (89’). O 3-0 leva-nos de volta a Inglaterra 30 anos depois dos Magriços. A alegria é imensa, a invasão de campo é memorável. Oliveira está emocionado, claro. “Não digo que seremos campeões europeus, mas vamos tentar.” Veremos.