Paris pagou a segunda dura factura do começo de uma acção armada, mas eficaz, contra as bases do ISIS na Síria e no Iraque. Moscovo já tinha recebido a primeira resposta no derrube de um avião comercial. Na reivindicação destes massacres fica o aviso para novas ações, amedrontando os povos da Europa, deixando margem para o crescimento de extremismos políticos com posições claramente contra o acolhimento de outras comunidades, sendo uma séria ameaça à democracia. Em França este ataque vai fortalecer a extrema-direita e poderá levar Marine ao Eliseu. Veremos com que consequências…
O ataque é contra estas democracias, esta tolerância, esta abertura pacífica em que vivemos. Os refugiados que estamos a acolher também vão sofrer com isto.
No difícil equilíbrio, está a falta de pragmatismo de um mundo que não percebe a verdadeira força de cada um dos povos da região, onde os curdos têm um papel fundamental. A Turquia tem condicionado a estratégia de apoio ocidental ao povo que mantém uma real capacidade de fazer frente aos radicais do ISIS, atacando mesmo inúmeras vezes as bases desta gente, que obviamente também sonha com o seu país, um grande Curdistão. A Rússia entrou na equação e tem capacidade de a desequilibrar a favor do Ocidente, mas é preciso uma verdadeira aliança internacional, que esqueça orgulhos e divisões que são menores, perante esta monstruosa ameaça que nos atinge a todos. A Europa tem de saber estar nesta batalha e até saber liderá-la.
É urgente travar as fontes de financiamento do ISIS que se alimenta no mercado paralelo do petróleo, que continua a ser hipocritamente permitido. São petroleiros, camiões, pipe-lines, coisas grandes que seriam bem detectadas, por quem as quiser ver.
Depois um verdadeiro controlo do armamento que chega descaradamente à Síria, muitas vezes pela mão de milícias que são apoiadas e treinadas pelo Ocidente, alegadamente para derrubar o regime de Assad. Porque não se pára este programa? Porque é que se continuam a enviar armas?
É fundamental envolver verdadeiramente os países da região, como o Irão e o atual poder sírio. Teremos de saber olhar para o que é verdadeiramente importante e vencer preconceitos e falsos moralismos. Hoje percebemos que estamos mesmo em guerra e até começamos a perceber onde poderá ser o próximo ataque.
Eles não vão parar e cada uma das acções será mais violenta e sangrenta.
Temos sempre a possibilidade de não fazer nada de radicalmente diferente, mas acho que assim vamos perder esta guerra e mergulhar num outro mundo, com ainda mais trevas, em sociedades policiais onde a democracia será coisa para se viver apenas de forma mitigada de demasiado apertada. Esta é a hora da escolha e cabe a todos levar as lideranças políticas a decidir.