É inédito: é a primeira vez que o número dois do governo é o líder parlamentar. Mas foi assim que a cúpula do PS decidiu. O presidente foi escolhido para líder parlamentar e agora acabará por ser uma espécie de ministro dos Assuntos Parlamentares.
Quando o PS iniciou o caminho rumo à solução governativa de esquerda, Carlos César aceitou ficar no lugar que desse mais trabalho. E esse lugar seria o parlamento, onde um governo minoritário que não ganhou as eleições teria de se confrontar diariamente com a oposição, que tinha tido mais votos, e com os partidos que lhe darão apoio parlamentar – Bloco de Esquerda e PCP –, com quem tudo vai ter de ser negociado ao milímetro e diariamente.
E Costa deixou isto mesmo claro logo quando propôs ao grupo parlamentar do PS Carlos César como seu presidente. “António Costa explicou que o líder parlamentar é, na prática, o número dois do governo. Exprimiu-se nestes termos”, disse ao i uma fonte da direcção socialista.
Já César só aceitou as funções na condição de a frente socialista na Assembleia da República ser politicamente forte – o que significava que teria de incluir alguns dos negociadores do acordo com as esquerdas. Um dado que faz com que nem todos (o grupo era constituído, além de Carlos César, por Mário Centeno, Ana Catarina Mendes e Pedro Nuno Santos) vão para o governo, mas também pode abrir-se uma porta para o executivo precisamente por esta mesma razão.
Ontem, o “Diário Económico” avançou na sua edição online que existirá um secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares. Uma informação que o i confirmou, com fonte socialista a dizer mesmo que com o poder político conferido a Carlos César, “provavelmente não se justifica um ministro dos Assuntos Parlamentares”. Mas o secretário de Estado sim, e na dependência de uma pasta política superior. Pedro Nuno Santos é uma hipótese, depois do papel de destaque que teve nas negociações à esquerda, que o colocou como uma estrela em ascensão no universo Costa.
O líder socialista não fez convites, até porque a indigitação como primeiro-ministro não é uma certeza, mas a estrutura já está na sua cabeça, com o próprio a admiti-lo em entrevista à revista “Visão”. “Estamos em condições para responder imediatamente, quer com a apresentação do programa de governo, quer com o elenco governativo.” António Costa veio, ontem ao fim do dia, refrear o impacto destas declarações, via fonte oficial do partido. ÀLusa, essa fonte disse que “o secretário-geral do PS esclarece que não fez nem está a fazer nenhum convite para eventuais cargos num futuro governo do Partido Socialista. Este é o tempo do Presidente da República”. Um governo PS, apoiado no parlamento por uma frente de esquerda, ainda aguarda aval do Presidente da República que, ontem e hoje, tem estado a ouvir os parceiros sociais sobre a situação política, num longo processo de audições que vai continuar nos próximos dias e também incluirá os partidos políticos.
Mas na antecâmara dessa decisão, as peças movem-se com insistência e há nomes que começam a saltar como hipóteses fortes e até mais do que isso. Mário Centeno é tido como o provável ministro das Finanças e, em entrevista à RTP3 anteontem à noite, admitiu “estar livre” para integrar o governo, dizendo que a sua “disponibilidade de participar na aventura deste debate intelectual [da preparação do programa de governo do PS] pode ter esse espaço”. Já Manuel Caldeira Cabral, uma hipótese para a Economia, atirou na SIC Notícias: “Terei muito gosto em integrar esse governo, se isso for bom para o país, mas não quererei especular sobre esse governo que ainda não existe.” Costa fez ontem um sinal claro de silêncio a afirmações do género.