PISTA. Bambolear a anca no meio do pelotão

PISTA. Bambolear a anca no meio do pelotão


Nascidos no Barreiro, Bruno, Cláudio e Ernesto acabam de editar o disco de estreia: “Bamboleio”. Estivemos num ensaio antes da apresentação que hoje acontece no Musicbox, em Lisboa, e amanhã no Maus Hábitos, no Porto  


Qual agulha no palheiro, um lugar para estacionar no LX Factory é mais difícil de encontrar que pôr um estúdio a funcionar. Que o digam os PISTA, que em dez minutos trataram de desembaraçar os cabos na sala do Mr. Gig e concluir todas as ligações necessárias para o ensaio. Conclusão, ou estes três rapazes são mestres desta arte complexa ou então fomos nós que jogámos pouco mikado em miúdos. Puxa fio de um lado, acerta o jack do outro, testa a guitarra, os pedais, os amplificadores… e “Bamboleio”, faixa que dá nome ao primeiro disco daqueles de duração longa deste trio do Barreiro surge a todo o gás. E eis que uma questão ética urge imediatamente: podemos ou não dançar à vontade? Não é que tenhamos verificado no código deontológico se existe uma alínea que diz que em ensaios privados de bandas para jornalistas estes não podem fazer a festa, mas talvez não seja uma ideia brilhante fazer tais figuras. Lá nos segurámos e fomos os primeiros a descansar a banda quando os músicos nos disseram: “Estas ligações hoje estão muito esquisitas, isto não está a sair bem, não ligues. Se calhar estamos demasiado habituados a tocar com os nossos amplificadores…” Respondemos que já ouvimos o disco e que não vamos fazer uma crítica ao ensaio. Os temas sucedem-se – ainda que Cláudio esteja a apanhar choques no microfone – e a viagem por “Bamboleio”, através de “Puxa”, “Sal Mão” e “Queráute”, é concluída com a constante vontade de festa tão característica na música dos barreirenses. O que se faz depois de um ensaio? Esplanada e amena cavaqueira, pois claro. 

VÍTOR GASPAR e um toque de anca Os PISTA surgiram no Verão de 2013, na altura compostos apenas por Cláudio (guitarra) e Bruno (Bateria). Pouco depois foi a vez de Ernesto (mais uma guitarra, há espaço que chegue) se juntar ao grupo. Pelo meio do processo surgiu o nome. “Houve uma tarde em que tínhamos de definir o nome para o primeiro concerto, foi na tarde em que o Vítor Gaspar se demitiu. Podia ser PISTA ou Vítor Gaspar Demite-se. Agora a sério: “Curtíamos a cena em torno das bicicletas, aquele ambiente urbano, e quase sem saber estávamos a fazer uma música que transmitia essa rebeldia punk, velocidade, cadência”, conta Cláudio.
Uma breve visita ao bandcamp do conjunto é talvez a melhor forma de se perceber de que sonoridade estamos a falar: “Somos três, somos do Barreiro. Somos bons rapazes e temos algum toque de anca”, pode ler-se na descrição. Pedimos aos PISTA que nos enquadrassem melhor. “Normalmente as pessoas têm mais tendência a dançar com os ombros, não sabemos dançar com os braços, a música puxa pela mais anca… o que fazemos tem mais a ver com a anca. E também não temos jeito para fazer descrições densas, nem para fazer coisas da forma convencional ou séria”, afirma Cláudio.

Maus cantores? Perguntamos nós, como que a desafiar um trio que é sobretudo gente dedicada à arte das coisas instrumentais. “Se calhar somos”, diz Cláudio, antes de acrescentar: “Acho que simplesmente não nos habituámos, eu, pelo menos, preocupo-me mais com cantar com a guitarra.” De seguida é Bruno a responder à provocação. Vai Bruno: “Se olhares para este disco, o que existe a nível vocal são coros. As tribos africanas comunicavam entre si através dessa espécie de chamamentos. Isso faz com que as pessoas participem, a energia entre o público e a banda flui de imediato.”

Ainda sobram justificações para que os PISTA sejam mais que instrumentos: “Ouves as claques e percebes que são melodias muito fáceis, toda a gente conhece. Uma melodia que consegue ser cantada por uma claque é uma grande melodia, não temos aquela coisa de a música ter de ser complicada, quanto mais simples melhor. A questão é que é muito difícil escrever um otoverme”, diz Cláudio.

São, ainda assim, os próprios a admitir que têm andado a considerar dar um pouco mais de valor a essa componente, tentar escrever letras, projectos em construção e em suspenso para um eventual segundo disco. “Desde que entrámos no carro para sair de Alvito, onde tudo isto foi gravado, pensámos logo em gravar outro. Quando é que cá voltamos? É óbvio que queremos tocar ao vivo, queremos dar rodagem a este ‘Bamboleio’, levá-lo a outros públicos, a muita gente quanto ao resto ainda não sabemos”, confessa Cláudio. Ao que Bruno responde: “Talvez passar a dança de anca para outra parte do corpo.” Até lá ficamos pela anca e ficamos muito bem.