O elástico


O Instituto de Investigação Económica Leibniz anunciou que a Alemanha ganhou mais de 100 mil milhões com a crise grega. A turbulência ia afectando o mercado da dívida helénica – fazendo os juros da dívida grega disparar –, os investidores refugiaram-se em obrigações germânicas, reduzindo o seu risco e os custos de financiamento dos alemães.…


O Instituto de Investigação Económica Leibniz anunciou que a Alemanha ganhou mais de 100 mil milhões com a crise grega. A turbulência ia afectando o mercado da dívida helénica – fazendo os juros da dívida grega disparar –, os investidores refugiaram-se em obrigações germânicas, reduzindo o seu risco e os custos de financiamento dos alemães. Sei bem que os alemães não fizeram de propósito, mas estes desequilíbrios resultam da estranha arquitectura da moeda única europeia. Embora 19 países utilizem o euro como divisa, a inexistência de um mecanismo comum de apoio aos ataques especulativos – a chamada mutualização da dívida – permite que uns países (os mais fortes) beneficiem dos prejuízos dos outros (os mais fracos). As vagas sucessivas da crise financeira que há uns anos assolam a Europa produziram um continente mais dividido entre os países ricos do Norte e os países pobres e pelintras do Sul. Aos poucos, o projecto solidário de unidade europeia foi subvertido e transformou-se numa dor de cabeça colectiva. O mal-estar e a desconfiança são tão grandes que os do Sul só não abandonam o euro porque não sabem como e os do Norte têm medo de ser prejudicados com a saída. Como as dinâmicas económicas têm sempre reflexos políticos, partidos e movimentos de esquerda estão a tomar o poder no Sul, enquanto a direita populista e xenófoba ganha poder a norte. Uma placa tectónica continua a rachar irreversivelmente a Europa em duas metades antagónicas. A fractura é tão, tão radical que um dia destes acordamos com a presidente Le Pen em França e o primeiro-ministro Corbyn no Reino Unido – e nada poderia ser mais oposto. Pode-se puxar um elástico todos os dias mais um bocadinho, na esperança de que ele se vá aguentando até ao infinito. Mas as leis da física ensinam que, num momento de distracção, ele acabará por rebentar nas nossas mãos.

Escreve à sexta-feira

O elástico


O Instituto de Investigação Económica Leibniz anunciou que a Alemanha ganhou mais de 100 mil milhões com a crise grega. A turbulência ia afectando o mercado da dívida helénica – fazendo os juros da dívida grega disparar –, os investidores refugiaram-se em obrigações germânicas, reduzindo o seu risco e os custos de financiamento dos alemães.…


O Instituto de Investigação Económica Leibniz anunciou que a Alemanha ganhou mais de 100 mil milhões com a crise grega. A turbulência ia afectando o mercado da dívida helénica – fazendo os juros da dívida grega disparar –, os investidores refugiaram-se em obrigações germânicas, reduzindo o seu risco e os custos de financiamento dos alemães. Sei bem que os alemães não fizeram de propósito, mas estes desequilíbrios resultam da estranha arquitectura da moeda única europeia. Embora 19 países utilizem o euro como divisa, a inexistência de um mecanismo comum de apoio aos ataques especulativos – a chamada mutualização da dívida – permite que uns países (os mais fortes) beneficiem dos prejuízos dos outros (os mais fracos). As vagas sucessivas da crise financeira que há uns anos assolam a Europa produziram um continente mais dividido entre os países ricos do Norte e os países pobres e pelintras do Sul. Aos poucos, o projecto solidário de unidade europeia foi subvertido e transformou-se numa dor de cabeça colectiva. O mal-estar e a desconfiança são tão grandes que os do Sul só não abandonam o euro porque não sabem como e os do Norte têm medo de ser prejudicados com a saída. Como as dinâmicas económicas têm sempre reflexos políticos, partidos e movimentos de esquerda estão a tomar o poder no Sul, enquanto a direita populista e xenófoba ganha poder a norte. Uma placa tectónica continua a rachar irreversivelmente a Europa em duas metades antagónicas. A fractura é tão, tão radical que um dia destes acordamos com a presidente Le Pen em França e o primeiro-ministro Corbyn no Reino Unido – e nada poderia ser mais oposto. Pode-se puxar um elástico todos os dias mais um bocadinho, na esperança de que ele se vá aguentando até ao infinito. Mas as leis da física ensinam que, num momento de distracção, ele acabará por rebentar nas nossas mãos.

Escreve à sexta-feira