Na Costa Rica há um jogador de futebol com o seu nome, um médio ofensivo de uma equipa de fundo da tabela, ainda que da primeira divisão (Belén FC). Já Mário Centeno, o economista português, prepara-se para jogar numa posição defensiva da equipa principal de António Costa: está alinhado para ser convocado como patrão da defesa, entenda-se o ministro das Finanças. E de um campeonato mais agressivo que o de Centeno, o costa-riquenho.
Será um liberal na função decisiva de um governo minoritário que depende do apoio parlamentar da esquerda radical: PCP, BEe PEV. É a voz autorizada no PS de Costa em matéria de finanças desde que o líder socialista começou a trilhar o caminho eleitoral. Mário Centeno é quadro do Banco de Portugal e professor de Economia do Trabalho no ISEG. A área do trabalho é a sua especialidade, onde tem obra publicada, caso do ensaio “O trabalho, uma visão de mercado”, que foi aproveitado politicamente para levantar as dúvidas sobre a figura que António Costa convidara para coordenar o grupo de peritos que ia traçar o cenário macroeconómico do PS.
E qual a razão para tanta celeuma em volta do escolhido para definir aquele que seria o guia espiritual do socialista daí para a frente? Centeno é defensor da simplificação e flexibilidade das relações laborais, que materializava num “contrato único” que substituiria contratos a termo certo e a prazo, arrepiando a esquerda. A ideia chegou a estar no cenário que traçou com mais 12 economistas para o PS, mas António Costa acabou por deixá-la cair. Ficou a redução da contribuição dos trabalhadores para a Segurança Social, também das mais contestadas, que caiu agora na negociação à esquerda, em que Centeno foi também pivô pelo PS.
Se chegar mesmo a ministro – como tudo indica e o próprio já não enjeita –, será o homem que dará o corpo às balas pelo cumprimento da máxima que o próprio ditou, há dois dias, ao “Financial Times”. Os mercados agitaram-se depois da queda do governo às mãos da moção de rejeição e, nesse mesmo dia, Centeno falou pelo PS à publicação que é referência mundial no meio económico-financeiro para garantir: “Nós vamos ficar no caminho da consolidação orçamental.” O agora também deputado do PS garantiu que défice e dívida vão continuar “numa trajectória consistente de queda” , mas a “um ritmo mais lento” para “criar espaço económico para aliviar restrições financeiras muito graves das famílias e empresas”.
Doutorado em Economia por Harvard, tem sido sempre um técnico que também passou pela Comissão Europeia e agora está à beira de passar para o lado executivo. Não lhe falta currículo académico, nem mesmo linguístico. No CV que entregou no Banco de Portugal consta que é fluente (fala e escreve) em espanhol, inglês, francês e italiano. Já no alemão,“fairly good understanding”. Chegará este “razoável” para eventuais embates no Ecofin?