O que não falta no mundo são rappers de YouTube. Letra, instrumental, tudo cozinhado no estúdio perro instalado na garagem da avó e a posterior fome por visualizações. A falta de qualidade ou a simples dificuldade de encontrar o seu vídeo num oceano de outros dita que a sua carreira fique por ali. Vilão não é um desses casos. Há um ano e meio fomos dar a “Mesmo Que Não Compense”, uma faixa que apresentava um rapper com talento, com um flow cheio de ritmo, com aparente vontade de não ser mais um a perder-se no canal. “O ‘Mesmo Que Não Compense’ foi um dos sons que lancei antes de pensar no projecto a sério. Isto vem tudo da vontade de criar conteúdos, criei a ASTROrecords com uns amigos e na altura só produzia, fazia os beats de pessoal que vinha gravar à ASTRO… sabia que um dia viria a gravar e a apostar mais nas rimas”, conta um dos fundadores da ASTROrecords, uma editora independente que junta gente como Profjam, Mike El Nite, Vácuo, entre outros.
Foi através desse singles soltos que Vilão se apercebeu de que já tinha um acervo considerável, algo que viria naturalmente a tornar-se um disco. “Mau da Fita” é a sua estreia, que já se encontra disponível para download gratuito.
Como sempre nesta corrente urbana, é preciso ter lata, coisa que nunca faltou a Vilão, nome artístico de Gonçalo Domingues. “A minha entrada na cultura hip-hop deu-se através do graffiti. Comecei a pintar com 13 anos, agora já há uns anos que estou mais afastado dessa vertente, mas a verdade é que foi por andar sempre com um caderno atrás, onde fazia os projectos para depois pintar, que comecei a escrever umas rimas”, diz antes de desvendar que Vilão vem precisamente daí, da assinatura que ficava nas paredes e que decidiu não modificar. Até o nome do disco acaba por bater na mesma tecla: “Mau da Fita”. “No fundo as palavras são sinónimos, optei por fazê--lo em detrimento de alguns músicos que assumem o seu primeiro disco como homónimo… ‘Mau da Fita’ acaba por ser quase Vilão”, afirma.
Mais concretamente, diga-se que “Mau da Fita” tem data de edição de 1 de Novembro, contém 12 faixas e colaborações diversas: DJ Ride, Blasph, Mike El Nite, Bispo, Harold, Short Size e IHenry. As produções dividem-se entre gente como RichardBeats, Retarded Temaki, Holly, entre outros. Com tanta companhia ao barulho o objecto só podia ser versátil, ora mais boom bap, ora mais sentimental, ora mais recente. Coisa premeditada claro: “Queria tocar um bocado em tudo, e isso estava-me a assustar porque fura o conceito do álbum, isso põe em questão a linha de pensamento da primeira à última faixa. O que tentei foi fazer isso através da forma como organizei a minha tracklist, mas sim, tenho coisas mais clássicas, outra mais trap, queria experimentar um bocado de tudo, mostrar serviço e versatilidade.”
Para quem há apenas uns anos se atirou para o rap, Vilão parece ter o desejo quase infantil de prosseguir, como uma criança que nunca se cansa de jogar à bola ou nunca assume o frio embora esteja há uma hora dentro de água. Tomemos isto, obviamente, como um bom sinal. Mais uma página na história da ASTROrecords que merece ser lida com atenção.
Mau da Fita
de Vilão
ASTROrecords
Disponível para download em www.facebook.com/astrorecords4andar. Para ter em formato físico tem de fazer a encomenda por mensagem privada.
12 faixas, colaborações comoDJ Ride, Blasph, Mike El Nite, Bispo, entre outras.