Maya Gabeira não teve uma estreia feliz na Nazaré. A brasileira, que experimentou pela primeira vez o surf numa escola do Rio de Janeiro aos 13 anos, quase morreu a praticar a modalidade que tanto ama. Salva pelo amigo Carlos Burle após cair numa onda, demorou quase dois anos – com várias cirurgias pelo meio – a recuperar a confiança e a forma física. O trauma não foi suficiente para a afastar da vila piscatória no Oeste. Maya está aí para as curvas.
Passaram dois anos desde o incidente que lhe ia roubando a vida. Ao fim deste tempo, que recordações tem desse dia?
Acho que recordo muita coisa. Recordo-me de um mar gigante, uma onda gigante, um quase afogamento, hospital, muitas coisas me vêm à cabeça.
É um dia para esquecer ou para lembrar para sempre?
Depende. Para mim não é um dia para esquecer, o dia não foi só o acidente. Isso foi o que marcou mais para todos, mas para mim não foi só o acidente.
O que a fez querer regressar à Nazaré?
Eu sempre quis, desde que cheguei aqui há dois anos e vi as ondas e o potencial, nunca quis deixar de vir para cá. O acidente aconteceu mas trabalhei duramente para conseguir voltar à minha forma física, organizar a estrutura de que precisávamos para surfar aqui, ter os jetskis, a equipa, a infra-estrutura, que não é fácil, para poder voltar.
Mas quando entra na água na Nazaré o que aconteceu não lhe vem à cabeça?
Sinto bastante medo. Não me vem exactamente isso à cabeça, mas tenho muito respeito ali pela onda, sei o quanto é perigoso, sei o quanto é mau levar com uma série de ondas gigantes na cabeça, e isso ainda me trava um pouco. Mas acho que com o tempo vou conseguir soltar-me de novo.
Como foi o período de recuperação?
Foram dois anos. Quebrei o perónio, fiz recuperação, tive de ser operada à coluna duas vezes, fiz recuperação novamente. Surfei pelo meio, claro, mas demorou até voltar à minha forma. Surfava, recuperava, piorava, fui andando assim até ao último ano, em que consegui estabilizar e ir evoluindo aos poucos.
Como se volta à água depois de uma experiência dessas?
Aos poucos. Acho que o tempo é o melhor aliado. É preciso nunca desistir, ir recuperando aos poucos, dar tempo ao tempo, que as coisas são esquecidas. Tudo se pode superar na vida.
O que espera desta temporada de ondas grandes na Nazaré?
Boas ondas, poder treinar muito, porque é um lugar único para isso, porque há muitas ondulações grandes, então tens possibilidade de surfar muitas vezes, o que é raro. Estar com os meus amigos, vê-los apanhar as maiores ondas do mundo, tentar apanhar uma grande, ir evoluindo e habituar-me, é um lugar excelente para treinar o resgate. É um sítio muito importante.
E o Carlos Burle, como tem sido a vossa relação desde então?
Sempre foi muito boa, o que ele fez jamais imaginaria. Salvou-me, conseguiu fazer a reanimação e graças a Deus deu tudo certo.
Como começou a interessar-se pelo surf de ondas grandes?
Quando fui para o Havai, aos 17 anos. Acho que o fascínio pelas ondas grandes, o desafio, o facto de não haver muitas mulheres, achei que poderia ser um desporto bom para mim devido às características da minha personalidade.
O que é necessário para se conseguir controlar numa situação de stresse?
Acho que o treino é o que ajuda o aspecto psicológico. Quando estás numa situação de apuro, saberes que estás treinada tranquiliza-te. Atinges o conforto mental e a confiança através do aspecto físico.