Portugal é conhecido lá fora como uma fábrica de talentos nas alas. Depois da geração de Eusébio, a aposta na formação de jogadores desde jovens foi sendo vista de forma cada vez mais séria. Paulo Futre assumiu um lugar de destaque na década de 80 mas só a partir de 12 de Outubro de 1991, com a estreia de Luís Figo num Luxemburgo-Portugal, a lista começou a incluir mais elementos. Simão Sabrosa, Ricardo Quaresma, Cristiano Ronaldo, Nani e Bruma imprimiram um selo de qualidade à conhecida formação de extremos do Sporting mas a mais recente convocatória de Fernando Santos marcou o aparecimento de um novo fenómeno: os extremos formados no Benfica.
Bernardo Silva tem feito a posição no Monaco de Leonardo Jardim e até na selecção – jogou descaído para um flanco na Albânia –, mas não é a sua posição de raiz. Com Gonçalo Guedes, a perspectiva é diferente. O jogador nascido a 29 de Novembro de 1996 tem tido uma ascensão meteórica e a chamada para os compromissos particulares com Rússia e Luxemburgo, naquele capítulo que Fernando Santos considera o primeiro do Euro 2016, pode ser encarada como a garantia de que o processo de rejuvenescimento do grupo está em marcha.
O denominador Alemanha A família de Gonçalo Guedes ainda não se tinha habituado à presença do novo elemento em casa quando Portugal defrontou a Alemanha no Estádio da Luz. Era 14 de Dezembro de 1996 e jogava-se o apuramento para o Mundial 1998, a última fase final que a equipa falhou. Fernando Santos orientava o Estrela da Amadora e Artur Jorge escolheu um onze com Vítor Baía, Secretário, Hélder, Fernando Couto, Dimas, Oceano, Paulinho Santos, Rui Barros, Rui Costa, João Pinto e Figo para fazer frente à campeã europeia de Sammer, Möller e Klinsmann. O encontro não teve golos e ficou marcado pelo longo slalom de João Pinto, que só não terminou com um golo porque Köpke foi destemido na saída.
Gonçalo Guedes tinha quinze dias. Com quinze anos, a Alemanha voltou a estar no caminho de Portugal. Não na selecção principal mas em sub-15. Foi a 7 de Junho de 2011, os germânicos venceram por 3-1 e o jovem do Benfica estreou-se com a camisola das quinas ao peito. Com o número 13, não se pode dizer que tenha tido sorte: entrou aos 59 minutos e saiu cinco minutos depois. Fosse como fosse, estava dado o primeiro passo de uma evolução que tem tudo para conhecer o ponto mais alto menos de cinco anos depois.
O denominador Rússia Os cinco minutos contra a Alemanha foram a única experiência de Gonçalo Guedes no escalão. Mas nos sub-16 voltou à carga e à terceira oportunidade conseguiu estrear–se a marcar, em Vendas Novas, a 22 de Novembro de 2011. O jogador vilafranquense ficou no banco da equipa de Filipe Ramos mas foi chamado para o campo aos 53 minutos. Portugal ganhava por 4-1 e Gonçalo Guedes só precisou de 16 minutos para aumentar a vantagem, num encontro que terminaria 5-3.
O futebolista não falhou um escalão na formação. Continuou pelos sub-17, sub-18, sub-19 e sub-20 até aproveitar o arranque de temporada no Benfica com Rui Vitória para provocar a primeira chamada de Rui Jorge aos sub-21. Foi há pouco mais de um mês. “É um reconhecimento do meu trabalho. Estou muito orgulhoso por ter vindo pela primeira vez aos sub-21. Quero continuar a ser chamado. Há jogadores nesta equipa com muita qualidade. Vou trabalhar para ajudar”, afirmava.
A estreia foi coroada com golo, contra a Grécia, a 13 de Outubro, mas Gonçalo não teve o prazer de ser chamado novamente… para os sub-21. FernandoSantos antecipou-se e garantiu o derradeiro capítulo na ascensão meteórica de um talento precoce que começou a dar nas vistas há dois anos. “É um grande orgulho e o reconhecimento de uma vida inteira. É o realizar de um sonho e estou muito feliz por ter sido chamado. Desde que representei a selecção nacional sub-15 tinha o sonho de chegar aos AA. Consegui agora concretizar esse sonho e espero dar o melhor”, contou na sexta-feira em declarações à BTV.
A época no Benfica foi o grande trampolim para a selecção. Depois da estreia pela equipa principal com 17 anos sob o comando de Jorge Jesus (3-2 ao Sp. Covilhã fora para a Taça de Portugal), foi somando minutos nas competições nacionais mas andou sempre muito tapado por Gaitán, Salvio, Ola John e até Sulejmani. Na nova temporada, a lesão do argentino e as saídas do holandês e do sérvio ajudaram a aumentar as oportunidades. O arranque até foi tremido, como suplente utilizado nos três primeiros jogos (Sporting na Supertaça, Estoril e Moreirense no campeonato), mas a goleada ao Belenenses no primeiro jogo como titular convenceu Rui Vitória definitivamente.
O primeiro golo chegou contra o Paços de Ferreira e no jogo seguinte foi decisivo em Madrid, fazendo o 2-1 com que o Benfica derrotou o Atlético na segunda jornada do grupo C da Liga dos Campeões. Por essa altura já não havia dúvida sobre o nome de quem era o dono da posição.
A chegada à selecção surge em novo momento alto. Gonçalo Guedes está entre os 40 nomeados para o prémio Golden Boy – melhor sub-21 do mundo – e voltou a marcar no campeonato emTondela, exactamente uma semana antes de ter sido convocado por Fernando Santos. A eventual pressão que possa ter sentido não se notou e voltou a marcar, abrindo caminho para o triunfo por 2-0 contra o Boavista. O jovem está a 19 dias de fazer 19 anos e hoje faz o primeiro treino com a selecção, no Jamor.