Catarina Guerreiro. “A maçonaria e a Opus Dei tentam manter o máximo de poder na sociedade”

Catarina Guerreiro. “A maçonaria e a Opus Dei tentam manter o máximo de poder na sociedade”


Catarina Guerreiro. Jornalista, autora de “O Fim dos Segredos”.


Foi mais difícil investigar uma ou a outra sociedade?
Quando contactei as duas instituições, a Opus Dei mostrou-se receptiva. Mas quando expliquei que o livro também abordava a maçonaria, recusaram colaborar. Foi muito mais complicado investigar a Opus Dei, até porque também há muito menos informação disponível em Portugal.

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“O Fim dos Segredos” é um desafio a instituições que vivem disso mesmo?
estava a fazer o livro, percebi que há coisas que ambas fazem questão de guardar para o interior das instituições.

Qual é o propósito desse proteccionismo? É o que os faz sobreviver. Têm códigos, procedimentos, rituais que gostam de guardar dentro das próprias paredes. Como na maçonaria já há muita informação para o exterior, esses rituais e palavras secretas são os segredos que lhe restam. Na Opus Dei, isso acontece, por exemplo, com as músicas que cantam dentro das residências, que não querem divulgar cá fora.

Fala sobre a luta pelo poder. O segredo serve para proteger a identidade ou o propósito destas sociedades? São as duas coisas. Os membros destas sociedades, sobretudo os da maçonaria, prometem guardar segredo sobre os rituais e isso garante-lhes a sobrevivência. Mas também garante a luta pelo poder.

Que é real?
Não tenho dúvida nenhuma. Tanto uma como a outra tentam manter o máximo de poder na sociedade.

Em benefício de uma sociedade melhor ou da satisfação dos próprios interesses?
Na génese, ambas acreditam num mundo melhor. Mas isso acabou por tornar-se outra coisa. Acabaram por ter necessidade de colocar pessoas em cargos importantes para poderem desenvolver estas ideias.
O facto de terem pessoas nestes lugares dá-lhes poder e permite-lhes implementar as suas ideias. A maçonaria sobrevive se tiver pessoas em lugares de destaque.

Nos últimos anos houve vários casos que feriram a imagem da maçonaria.
A maçonaria confundiu-se com momentos importantes da história, mas em certo momento começou a ser difícil fazer a separação entre o que fazer pelo bem ou pela própria sobrevivência. Hoje deve haver uma pequena minoria que vai lá por ir. A maior parte das pessoas nas lojas têm mais objectivos.

Mais pessoais que colectivos?
No livro percebe-se que há pessoas que vão porque acham que podem arranjar os chamados tachos, outras porque querem ter poder nos partidos, outras porque pode ser-lhes útil profissionalmente.

Houve algum ponto que a tivesse surpreendido?
Na Opus Dei surpreendeu-me a clausura e a falta de liberdade de que muitos se queixam. São muito rígidos e não se adaptaram muito, vivem longe da realidade.

Quem sai sofre um choque com a realidade?
São pessoas incapacitadas para viver no mundo aos 30 ou 40 anos. Quando chegam cá fora, têm de viver numa realidade com que não sabem lidar. E, como dão todo o dinheiro à instituição, não têm nada quando decidem sair.

Estas sociedades fazem falta à sociedade actual?
A mim, não fazem falta. Mas não sei responder à pergunta.

São mais benéficas ou prejudiciais?
Todas as organizações têm coisas boas e más. Não acho que se deva acabar com as instituições, depende da forma como actuam. Podem ser benéficas se utilizarem bem os seus propósitos e prejudiciais se fizerem o contrário.