António Costa guardou-se para o encerramento do debate do programa do governo e para uma intervenção aplaudida por toda a esquerda, com alguns deputados do BE na última fila a levantarem-se mesmo com o PS nas palmas ao líder socialista. A intervenção foi justificativa do acto que se segue, a aprovação da moção de rejeição ao governo PSD/CDS: “Sempre dissemos e repetimos que ninguém contasse com o PS para apoiar a continuação das políticas da coligação PSD/CDS”.
O líder do PS garantiu que a aprovação da moção de rejeição “é a resposta construtiva que viabiliza um outro governo, com um programa coerente, credível e consistentes, com condições estáveis de execução ao longo da legislatura”. Antes da sessão de encerramento do debate do programa do governo, o socialista assinou com PCP, BE e Verdes três acordos políticos que garantem o apoio parlamentar a um governo do PS. O suficiente para Costa decretar, no plenário, que “acabou um tabu, derrubou-se um muro, venceu-se mais um preconceito”.
À direita a contestação foi fazendo-se ouvir durante a intervenção de Costa, mas sobretudo quando o líder socialista disse que faz cair o governo porque “palavra dada é palavra honrada”. Às bancadas do PSD, CDS e do governo, Costa atirou a incapacidade de formar um acordo sustentável. “O PSD mais não conseguiu do que renovar a coligação com o CDS. Exactamente como há quatro anos… com uma diferença fundamental: há quatro anos formavam maioria e agora estão em minoria”.
Em contraponto, o socialista colocou a alternativa da qual as bancadas da esquerda “garantem o suporte parlamentar maioritário que permite a formação do governo do PS na coerência do seu programa de governo, com condições de governação estável no horizonte de uma legislatura”. A propósito, Costa saudou o “sentido de responsabilidade patriótica” da esquerda.
Mas António Costa também não deixou de assumir as diferenças com os partidos com quem assinou acordo, garantindo que é o PS que “cabe assegurar a coerência dos contributos das diferentes bancadas” com o seu programa e a sua “compatibilidade” com os compromissos internacionais de Portugal “quer no quadro da política de defesa, quer no âmbito da nossa participação na UE e em especial da zona euro”.
E neste ponto, Costa deu mesmo exemplos dizendo que “é possível melhorar o rendimento das famílias sem que tenhamos de partilhar a opinião sobre a NATO” ou que “é possível defender o Estado Social, malgrado termos diferentes visões sobre a nossa participação na zona euro”.
Contra o “radicalismo ideológico” que atribui ao PSD e CDS, o socialista assume uma posição também radical: “Romper com esta governação para reconstruirmos compromissos, sararmos fracturas e restabelecermos a paz constitucional”. A moção de rejeição o PS é a primeira a ser votada e será aprovada pela maioria de esquerda.