Enquanto comemos castanhas e degustamos água-pé, lembremos que houve mais coisas neste dia 11 de Novembro.
Onze de Novembro às 11h. É o Dia da Memória (Remembrance Day), que celebra o momento da assinatura do Armistício de Compiègne, no final da I Guerra Mundial, em 1918. Foi num vagão de comboio, na floresta de Compiègne, que o marechal Foch e Matthias Erzberger assinaram a rendição alemã, pela qual o povo germânico, para lá de sofrer uma enorme humilhação, teve de contrair dívidas de guerra incalculáveis (a última tranche foi paga há escassos anos… quase um século depois).
Há quem diga que esta humilhação, provavelmente feita com o objectivo de “domar” a Alemanha, associada às enormes carências económicas subsequentes às indemnizações de guerra, contribuíram para exacerbar o nacionalismo e o sentimento antijudeu que permitiram fenómenos como a eleição de Hitler. Aliás, foi no mesmo comboio e no mesmo local que o ditador alemão obrigou o primeiro-ministro Reynaud a assinar a rendição de França, em 1940.
Portugal, que não se envolveu na Segunda Guerra Mundial, esteve na Primeira, em duas frentes: em África, em 1915, defendendo Angola e Moçambique dos “apetites” dos alemães, e em França, a partir de Fevereiro de 1916, depois de um decreto do governo português, a pedido da Inglaterra, ter apresado 70 navios germânicos e dois austro-húngaros que estavam em águas territoriais portuguesas. Como consequência, Guilherme II apresentou a declaração de guerra ao governo português, em 9 de Março de 1916.
Iniciava-se assim a participação formal de Portugal na Primeira Guerra Mundial que, muito em breve, arrastaria o Corpo Expedicionário Português para as trincheiras da Flandres. Estiveram mobilizados neste conflito cerca de 200 mil homens e o número de mortos foi superior a 10 mil, para lá dos milhares de feridos e de soldados que ficaram mutilados, com incapacidades permanentes ou foram vítimas dos gases utilizados na frente de combate, que causavam danos psicológicos e intelectuais perenes. O esforço de guerra, a nível interno, foi o começo do fim do regime da I República, não conseguindo a unidade nacional e levando, pelas consequências económicas, a uma situação de quase bancarrota, instabilidade política e ao golpe militar de 1926, com o fim da democracia.
A batalha que ocorreu em Abril de 1918 no vale da ribeira de Lys, na Flandres, Bélgica, foi o ex-líbris da derrota do Corpo Expedicionário Português. Os exércitos alemães infligiram uma estrondosa derrota às tropas portuguesas, no que foi a maior catástrofe militar portuguesa depois da batalha de Alcácer-Quibir, em 1578. Em apenas quatro horas de batalha perderam-se cerca de 7500 homens, ou seja, mais de um terço dos efectivos.
Escapámos da Segunda Guerra Mundial, mas sustentámos uma guerra colonial de 13 anos. Temos militares em missões de paz um pouco por todo o lado. Relembremos isso neste Remembrance Day, amanhã, dia 11, às 11 horas, como fazem todos os anos os britânicos junto ao Cenotaph, ao lado de Downing Street, numa cerimónia evocativa que mostra que o Reino Unido, uma vez mais, esteve do lado certo da História.
SÃO MARTINHO
Reza a lenda que quando um cavaleiro romano andava a fazer a ronda, viu um velho mendigo cheio de fome e gelado, porque estava quase nu. O dia estava chuvoso e frio, e o velho estava encharcado. O cavaleiro, de seu nome Martinho, mostrou a sua bondade e espírito solidário. Cortou então a sua grossa capa ao meio, com a espada, e ofereceu uma das metades ao mendigo, ficando ele próprio exposto à intempérie. A chuva parou e apareceu no céu um sol quente e reconfortante. Como se de Verão se tratasse…
Uma lenda é uma lenda, mas as estatísticas meteorológicas dos últimos 200 anos são a prova de que, na esmagadora maioria dos anos, em meados de Novembro, os centros de alta pressão no Atlântico e na Europa tornam–se mais consistentes e expandem-se, gerando um fenómeno de bom tempo, especialmente no Canadá e costa leste dos EUA, bem como em Portugal e nos países do Mediterrâneo, e até no norte da Europa – a este fenómeno chama-se o Verão de São Martinho. No Canadá é o “Indian Summer”, na Suécia o “Birgitta Summer”, e na Finlândia o “Turning of the Leaves”.
Sol, calor relativo e calmaria. Mesmo com o aquecimento global, o efeito de estufa e outras coisas “góricas”.
Aproveitemo-lo, com uma boa água-pé, castanhas e uns petiscos. Mata-se o porquinho e prova-se o vinho.
E um abraço especial ao sr. Eduardo, que não vai ter mãos a medir na Praça de Londres!
Pediatra
Escreve à terça-feira