À hora do fecho desta edição, o acordo à esquerda, entre PS, PCP e Bloco de Esquerda (BE) estava praticamente fechado. Falta a Comissão Política do PS aprovar o texto, que já tinha sido aprovado pela comissão nacional. A moção de rejeição vai mesmo avançar, ditando o fim, já amanhã, do governo mais curto da história da política portuguesa.
No sábado, o secretário-geral doPS levava na sua pasta um programa de governo para a XIII legislatura à comissão nacional (CP) socialista, negociado com o BE – que até anunciou o acordo na conta do Twitter da sua líder Catarina Martins –, o PCP e o PEV (mais de 70 medidas, desde o combate à precariedade à reposição dos salários da função pública). Noventa e cinco por cento da comissão nacional socialista deu o “sim”, com apenas sete votos contra, duas abstenções e 163 votos a favor.Com a maré de feição, António Costa, no discurso final da CN doPS, revelou uma ambição: “Não estou disponível e o PS não está disponível para formar um governo que não tenha reais condições para que seja um governo de legislatura”, garantiu o líder socialista.
Ecos de Lisboa da aprovação do programa de esquerda chegaram ao Funchal, a bom porto. “Não há aqui nenhum golpe, o que há é democracia”, argumentou Catarina Martins, antevendo que o novo governo sofrerá “gigantescas pressões da Europa da austeridade”. Então e os comunistas? Mais tarde, duas horas e meia antes do segundo round da CP doPS, o comité central comunista tranquilizava os outros dois parceiros que derrubarão o governo de Passos Coelho. “Estão criadas condições para uma solução de governo na perspectiva de uma legislatura”, anunciou o líder doPCP, Jerónimo de Sousa.
sem leitão ou alternativa Na Mealhada, a“corrente alternativa” do PS, liderada pelo eurodeputado Francisco Assis, reuniu-se – depois de algumas trocas no dia – na passada sexta-feira para um “debate” à porta fechada, com menos de 200 militantes de todo o país, número inferior aos inscritos: 400. Os seguristas Eurico Brilhante Dias, João Proença, Álvaro Beleza, José Junqueiro, Mota Andrade ou atéNarciso Miranda, o polémico ex-presidente da Câmara de Matosinhos, expulso do PS, estiveram presentes. O leitão não chegou para toda a gente – só estava marcada mesa para 16 –, mas Assis não se afastou da sua vontade de se expressar sempre “às claras”: “Há uma divergência política comAntónio Costa quanto a esta solução. Os que acreditam vão participar no processo, os outros têm o dever de não instabilizar a solução”, disse, negando qualquer guerrilha interna.
Das 22h00 à 1h00 da manhã, os militantes iam saindo da sala, e Assis, o último, quis deixar claro que não apelou a “qualquer desobediência por parte dos deputados” e que o Presidente da República, Cavaco Silva, deve mesmo dar posse a um governo doPS com acordo à esquerda. À entrada da comissão política, Assis insistiu que se vai opôr à solução, quer tenha ou não apoios dentro do PS, que disse já estar à espera de não encontrar.