Nos últimos dias, o outrora mundo cinzento da política transformou-se num fantástico jogo colorido. Jogadas e mais jogadas para tentar encaixar as peças no cubo mágico, como ontem bem o definiu o nosso director gráfico, João Paulo Rego. Às redacções chegam informações contraditórias a cada minuto que passa. Já há acordo, mas o PCP não dá garantias de aceitar as imposições de Bruxelas; a ala dura do PC entende que Jerónimo está a renegar o passado de Cunhal, mas a ala sindicalista quer o acordo até por causa das regalias para os trabalhadores; o Bloco virou Syriza e aceita o que não aceitava no passado; Catarina e Jerónimo têm de fazer parte do governo, mas Costa só quer Catarina, etc.
Estas são algumas das informações que vão sendo transmitidas, mas a verdade muda a cada segundo que passa. Não quer dizer que não sejam verdadeiras no momento em que são ditas, mas nas últimas semanas alguns dirigentes entram em reuniões a pensar que o cenário é um e quando saem percebem que outra coisa foi discutida noutra reunião. Por outro lado, há quem pense, no PSD/CDS, que o Partido Socialista será obrigado a “aceitar” a PaF, atendendo a que não conseguirá chegar a um entendimento sólido e duradouro com o PCPe o BE. E aqui entrou então António Costa com a entrevista que deu à SIC,em que deixou tudo na mesma. Costa fez lembrar aqueles casais que querem casar por interesses não tão nobres como o amor, mas querem marcar a data do casamento à força, sabendo que apenas estão de acordo no que diz respeito às questões monetárias.
E só se consegue entender a entrevista ou como uma forma de Costa pressionar o PCP e o BEou como uma fuga para a frente. Sem nada na manga, o secretário-geral do PS foi à televisão falar sobre o vazio. Isto é: há acordo sólido com os parceiros de esquerda para quatro anos, como exige o Presidente da República e como o próprio Costa assumiu como indispensável para fazer cair o governo de Passos? Não, não há, e bastava olhar para a cara do líder do PS para o perceber. Vai ser um fim-de-semana muito curioso, até todos estarem cara a cara no parlamento na segunda-feira…