Centenas de socialistas já estavam inscritos para participar, na Mealhada, num almoço para contestar o acordo de esquerda, promovido por Francisco Assis, mas António Costa acabou por travar o encontro marcando para o mesmo dia uma reunião da comissão nacional do PS.
Francisco Assis adiou “imediatamente” o almoço para “um momento ulterior”. Ninguém acredita, porém, que tenha sido uma coincidência. “Querem que não se faça o almoço, como é óbvio”, diz ao i Ricardo Gonçalves, que pertence à comissão nacional e já tinha anunciado a sua presença no almoço de contestação à estratégia de António Costa. O ex-deputado prevê que a aliança do PS com os partidos à sua esquerda “vai acabar mal e dar a maioria absoluta à direita por muitos anos”.
O encontro entre Assis e os seus apoiantes só deverá acontecer depois de conhecido o acordo entre o PS, os comunistas e o Bloco. António Costa não se pronunciou ainda sobre a iniciativa do eurodeputado socialista. Assis não deixou, porém, de ser criticado pelo timing escolhido. “Parece que os protagonistas do plural não encontraram melhor ocasião para se conjurarem que no fim-de-semana decisivo. Podiam ter esperado, podiam ter antecipado […] Com amigos destes, ninguém precisa de inimigos, nem até de adversários”, escreveu Correia de Campos num artigo publicado ontem no “Acção Socialista”.
A contestação, garantem os críticos, vai fazer-se sentir na reunião da comissão nacional, que visa fazer uma “análise da situação política e a apreciação das diligências desenvolvidas com vista à formação de governo na sequência das eleições de 4 de Outubro”.
Álvaro Beleza, João Paulo Pedrosa, José Junqueiro e Miguel Freitas são alguns dos socialistas que pertencem à comissão nacional e contestam a estratégia de Costa. Beleza reagiu à decisão deste de marcar a comissão nacional para o mesmo dia do almoço com a acusação de que a direcção nacional revelou “velhos tiques de receio de debate interno e nervosismo”. José Junqueiro, outro socialista que tem estado na primeira linha da contestação a um governo de esquerda, defende que “Costa sucumbiu à pressão interna, mas ao escolher essa data demonstra enorme fragilidade política”.
Assim que foi convocada a reunião da comissão nacional – uma das reivindicações dos críticos, que pedem mais debate sobre o acordo –, Francisco Assis anunciou que iria cancelar o encontro. A meio da tarde, o eurodeputado explicou com mais detalhe, através de um comunicado, essa decisão. “Só assim ficam devidamente acautelados os superiores interesses do Partido Socialista, cuja salvaguarda tem de prevalecer sobre todas as divergências que internamente nos separem”, garante Assis. E acrescenta: “Deseja-se que a reunião da comissão nacional decorra num ambiente favorável à livre e leal troca de pontos de vista e contraposição de opiniões. Vivemos um momento de extraordinária importância na vida do nosso partido, o que obriga a um especial cuidado na observância dos princípios fundamentais que nos norteiam.”
Além da reunião da comissão nacional do PS, o órgão máximo entre congressos, a direcção do PS convocou para domingo à noite uma reunião da comissão política nacional.