James Bond. Os agentes secretos são eternos

James Bond. Os agentes secretos são eternos


Estreia-se hoje “Spectre”, o filme número 24 da saga oficial de 007. Pode até ser o último com Daniel Craig, mas isto não acaba aqui.


Só há outra saga como esta: a da “Guerra das Estrelas”, ainda que mais curta e 15 anos mais nova. E apesar das diferenças que as separam, há um pormenor que funciona exactamente da mesma maneira: sempre que chega um capítulo novo, há uma legião de fãs que perde o controlo sobre o sistema nervoso e há uns outros quantos que descobrem o fenómeno, para darem os primeiros passos no caminho da perdição. E tudo isto acontece mesmo quando o filme não presta, quando os anteriores eram muito melhores, longe do tempo em que o herói era aquele actor que “sim senhor, ele é que fazia aquilo bem” e etcetera.

Hoje estreia-se mais um filme da série James Bond. É o 24.º e o anterior chegou há três anos. Não é muito – se tivermos em conta que ele há bandas que fazem intervalos maiores entre álbuns –, mas é garantido que, para os interessados na matéria, este “Spectre” vai chegar aos cinemas como se fosse o primeiro de sempre ou o derradeiro título da série. E já se sabe, com os amores é assim que funciona, ninguém bate o primeiro nem o último.

Sobretudo para este conjunto de fiéis dedicados, não interessam as críticas (que andam divididas), valem de pouco as dúvidas sobre se será este o último filme com Daniel Craig como protagonista (esteve bem, mas há sempre alguém com categoria para entrar no jogo) e muito menos importa saber se “Spectre” está feito de referências ao passado ou se é um novo empreendimento.

São contas a fazer quando acabarem as duas horas e meia de filme. Ninguém vai deixar a avaliação à espera, mas como acontece em qualquer caso de ligação razoavelmente irracional, isso faz parte do campo do logo-se-vê.

E será sempre assim. Voltando à “Guerra das Estrelas” (já agora, ainda não tínhamos dito que falta pouco mais de um mês para 17 de Dezembro, data da estreia de “O Despertar da Força”; agora sim, podemos continuar), fenómenos destes existem porque os filmes se transformam em certezas: por menos bom que seja, haverá sempre algo que justifica a espera.

Quando “Spectre” começar, tudo o resto deixa de existir e isso, além de criar um razoável sentimento de satisfação, faz com que aguardar pela hora da sessão seja uma coisa boa. E convenhamos, tanta manobra de marketing em volta do lançamento de um filme, que começa mais ou menos um ano antes do dito chegar à tela, tem de ter um porquê.E a razão é simples: é quase tão bom saber que vem aí um novo Bond como é incrível poder vê-lo. Até porque, depois do fim, só há mais da próxima vez, e é essa parte que é tramada.

Rufias

Já agora, de que trata “Spectre”? Falemos sobre isso, mas pouco. Importa saber que esta é a primeira vez que Bond dá de caras com a organização Spectre. Ou seja, fica encerrado o ciclo de semiprequelas iniciado com “Casino Royale”. E lembremo-nos que a Spectre não aparecia num filme de 007 desde 1971, ano de “Os Diamantes são Eternos”. Pelo meio disto há um novo M, desobediência à autoridade e a dupla Monica Bellucci-Léa Seydoux.

Há uma trama que começa num lado do mundo e acaba no outro. E há Franz Oberhauser, um vilão que é mais do que isso: é um misterioso artista do crime, mas também um guardador de segredos que prometem esclarecer muito do que acontece na vida de James Bond desde 2006.

E já se sabe, uma das melhores coisas de qualquer história de 007 é o mau. Como é óbvio, nem todos os maus são maus coisa que chegue, ou com a mesma categoria, nem sequer carregam sempre a mesma vontade de esfolar, matar e outros verbos do género. É muito difícil que algum dia apareça outro Goldfinger ou um novo Scaramanga. Mas há sempre novas possibilidades.

Os recentes Le Chiffre (de “Casino Royale”) ou Raoul Silva (“Skyfall”) são bons exemplos de como ainda há tempo e espaço para a criatividade, seguindo sempre elementos repetitivos mas nunca aborrecidos. Por exemplo, falar inglês com um bom sotaque de uma qualquer outra zona do mundo e apresentar uma característica física fora de série, dos três mamilos à melhor das cicatrizes, são estereótipos que resultam sempre.

Christoph Waltz, pelo que tem mostrado ao mundo, é óptimo a fazer tudo. Mas ainda ninguém esqueceu como foi perfeito a ser medonho em “Sacanas Sem Lei”.

O austríaco era actor há muitos anos e desde então fez de Hollywood a sua morada, mas continua a ser o terrível nazi Hans Landa sempre que olhamos para ele. Em “Spectre”, Waltz é o tal Oberhauser e tem a sorte de recuperar a agência de contra–espionagem e terrorismo criada por Ian Fleming e que acompanha Bond no cinema desde os primeiros filmes. Dr No? Spectre. Rosa Klebb? Spectre. Emilio Largo? Spectre. Isso.

E valerá a pena voltar ao que já lá vai? Naturalmente que será preciso ver a fita para responder. E não vamos aqui tentar perceber se Christoph Waltz vai revelar ser ou não o temível Blofeld (o chefe da Spectre, famoso, entre outras coisas, pelo gatinho que tem ao colo quando manda matar gente e acabar com o mundo). Isso logo se vê. Agora, e porque é sempre bom fazer contas à vida, nada como passar os olhos pelo quadro aqui ao lado para perceber qual o melhor inimigo de James Bond (até ver) e como 007 se tem comportado ao nível da limpeza de rufias ao longo dos filmes. E não, não é preciso agradecer.