Atmosfera fina de Marte é culpa de ventos solares

Atmosfera fina de Marte é culpa de ventos solares


NASA está mais perto de perceber o que levou à transição do clima em Marte, inicialmente semelhante ao nosso. Pelo caminho, viu uma aurora.


Esta semana voltou a acontecer. A NASA prometia novidades escaldantes sobre Marte quando ainda nos refazíamos do fim-de-semana. E, tal como tinha feito com o anúncio de água líquida no planeta vermelho, fez-nos esperar vários dias para saber o que havia de novo. Durante a tarde de ontem, a especulação apontava para uma descoberta relacionada com oxigénio – e de facto, na conferência de imprensa, transmitida em streaming para o mundo inteiro, ficámos a saber que há mais moléculas na atmosfera marciana do que se pensava.

Mas a descoberta que realmente entusiasmou a comunidade científica foi outra. Por fim há pistas que ajudam a perceber a razão de a atmosfera de Marte ser hoje tão fina, quando a NASA sabe que um dia o planeta foi semelhante à Terra, com um imenso oceano a ocupar grande parte da sua superfície.

Explicar como se deu essa transição, e como um planeta verdejante e apto a ver nascer vida se tornou o deserto árido e vermelho que hoje conhecemos sempre foi um desafio para os cientistas.

A culpa, tudo indica, será dos ventos solares. A Maven, uma sonda da NASA que há cerca de um ano orbita o planeta com a missão de estudar a sua atmosfera, assistiu em Março passado ao inesperado. Enquanto um pico de erupções solares provocava nos pólos da Terra as habituais auroras boreais e austrais, a Maven assistia a uma rara aurora em Marte. Não é a primeira vez que a NASAassiste ao fenómeno, mas a grandeza tornou-o muito diferente daquele a que assistiu no início dos anos 2000. Ao mesmo tempo, a Maven registou perda de gases na atmosfera, ou seja, os ventos solares geraram uma movimentação pouco habitual das moléculas de gases da atmosfera e estes como que “fugiram” do planeta. As medições mostram que os ventos solares roubam 100 gramas de gás a cada segundo que passa. 

“Tal como um ladrão que rouba algumas moedas de uma caixa registadora de cada vez, a perda só começa a ser significativa com o passar do tempo”, explicou Bruce Jakosky, o principal investigador da missão Maven. “Vimos que a erosão da atmosfera aumenta significativamente durante as tempestades solares, portanto pensamos que a perda seria muito maior há milhares de milhões de anos, quando o nosso Sol era mais novo e mais activo.”

Depois de uma série de tempestade solares em Março, a perda na atmosfera de Marte foi acelerada. Esta peça de informação é fundamental para aumentar o conhecimento dos cientistas sobre o universo. “Perceber o que aconteceu à atmosfera de Marte vai aumentar o nosso conhecimento das dinâmicas e a evolução de qualquer atmosfera planetária. Aprender o que pode causar alterações ao ambiente de um planeta capaz de albergar vida microbiana a ponto de o tornar incapaz de hospedá-la é a questão-chave que está agora a ser abordada na missão da NASA a Marte.”