Não faça confusão, não lhe vamos falar de um skate, mas também não lhe vamos falar de uma prancha de surf. No entanto, no meio da cidade ou perto da praia, podia passar despercebido por qualquer das duas coisas e é por isso que o experimentamos no paredão de Carcavelos, entre a estrada e o mar, território incerto.
As ondas não estão grande coisa, mas mesmo assim, e como é hábito naquelas paragens, há escolas de surf a boiar na água. Talvez ainda não conheça a nova gerigonça que há dois meses põe surfistas em Portugal a surfar mesmo quando não há ondas. Como? A surfar o asfalto.
“Não é skate nem é surf, é uma coisa ali no meio, e é por isso que trabalhamos mais o produto junto dos surfistas, porque ajuda muito no treino”, explica Rodrigo Pimentão, de 38 anos, o responsável pela marca SurfSkate em Portugal e na Europa. “É o mais próximo da sensação de surf que se consegue em terra”, resume.
E deve saber do que fala. Rodrigo foi skater profissional (chegou a ser campeão nacional) e faz surf desde os 14 anos, “como hobby”. Durante 13 anos foi director de marketing da Despomar – a maior empresa nacional ligada ao surf, que detém marcas como a Billabong – até lançar, juntamente com um sócio, o seu próprio negócio.
“A marca já existia, vem da Califórnia, mas conseguimos ter a representação a nível europeu, o que é muito difícil, principalmente num mercado dominado pela França e pela Alemanha”, continua. Lançaram o site (www.surfskate.pt) e já tiveram encomendas de países como Inglaterra, França, Suíça, Áustria e Alemanha, apesar de ainda estarem “a dar os primeiros passos na Europa”.
Os estrangeiros que vivem longe das ondas são um dos públicos-alvo da SurfSkate. “Hoje em dia há muitos turistas que vêm fazer uma semana de surf a Portugal e depois só voltam a fazer daí a um ano. E este é o produto ideal para ajudar a manter uma ligação ao surf, mesmo quando estão na sua terra, longe do mar.”
O criador, um longboarder americano, estava desiludido com a maior parte dos skates no mercado
Quem anda de skate e se põe à confiança em cima de uma destas pranchas pode cair à primeira tentativa. Aliás, Rodrigo adverte logo que “é difícil, e ao princípio até pode parecer quase impossível”. No entanto, quem faz surf há alguns anos não deve ter dificuldade, até porque as bases são muito parecidas. “Quando se põe os pés na prancha tem de se afastar mais as pernas, como no surf, mais que quando se está a andar de skate”, continua Rodrigo.
O criador destas pranchas, o americano Colin O. Newton, longboarder profissional, estava desiludido com a maior parte dos skates que existiam no mercado e que prometiam uma experiência parecida com o surf. “Nunca concordei com isso”, conta no site oficial da marca.
O segredo está nos trucks, que permitem uma rotação à frente de 360 graus, com a ajuda do corpo, como no surf
Começou a pensar em reconstruir o seu próprio skate para tentar recriar a sensação do surf e descobriu que o segredo estava nos trucks, que à frente rodam 360 graus. “O skate tem de ter liberdade de movimentos completa na frente para que se possa usar a parte superior do corpo para se mover em qualquer direcção, como no surf, e para controlar a velocidade”, explica o americano.
Em Portugal há três modelos com vários designs disponíveis para encomendas online (e também em lojas como a Bana de Carcavelos, a CC Boards, em Lisboa, ou a Rip Curl, em Peniche) e custam entre os 270 e os 290 euros (ainda assim mais baratos que uma prancha de surf). “O maior é o mais aconselhável para quem está mesmo à procura da sensação do surf”, diz Rodrigo.