Nem a loura Barbie escapa ao longo braço das autoridades iranianas

Nem a loura Barbie escapa ao longo braço das autoridades iranianas


Posar nu, dançar em locais públicos ou fazer videoclips é proibido. E as mulheres não podem assistir a jogos de voleibol. Quem ousou fazê-lo foi fustigado.


O caso das duas actrizes que correu as notícias internacionais nos últimos dias não é isolado.

Em 2012 a actriz iraniana Golshifteh Farahani posou nua para a revista “Madame Le Figaro”. O acto não foi bem visto pelas autoridades iranianas e a actriz recebeu uma carta do governo a informá-la de que não poderia voltar a entrar no país. “Foi-me dito pelo ministro da Cultura e representante oficial do governo iraniano que o país não precisa de mais actores e actrizes. Que eu podia oferecer as minhas qualidades artísticas em qualquer outro sítio”, disse Farahani na altura, em entrevista ao “The Telegraph”.

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A actriz já tinha deixado o seu país de origem num protesto contras as regras rígidas e as restrições impostas pela indústria cinematográfica e desde então não voltou.

Farahani vive agora em Paris com o marido. “França libertou-me. É o único país do mundo onde uma mulher não se sente culpada. No Oriente somos culpadas de tudo”, disse a actriz à revista “L’Egoiste”. E depois de 2012 Farahani voltou a posar nua para uma revista, no início deste ano.

Além de ser proibido posar nu, a República Islâmica não permite danças em público. Há um ano, uma rapariga iraniana foi filmada a dançar no metro e o vídeo tornou-se viral na internet. E o caso não se ficou por aqui. Além de ter violado a regra relacionada com a dança, a jovem deixou cair o jihab e não voltou a pô-lo. A dança foi um protesto contra as leis impostas pelo Irão. 

Contudo, os seis iranianos que gravaram o videoclip da música “Happy”, de Pharrell Williams, também o ano passado, não tiveram a mesma sorte. A justiça iraniana condenou os jovens a seis meses de prisão e 91 chicotadas.

O homem que filmou o vídeo, Sassan Solemani, teve uma sentença mais longa: um ano de prisão e o mesmo número de chicotadas. As raparigas presentes no vídeo não usavam o véu islâmico. Apesar da condenação, os condenados saíram em liberdade um dia depois mas tiveram de pagar uma fiança. Estão a aguardar julgamento em liberdade e, se voltarem a cometer infracções do mesmo tipo, as consequências serão bem piores.

No desporto as restrições também são grandes e têm vindo a agravar-se. Se só desde 2012 o governo iraniano proíbe que as mulheres assistam a jogos de voleibol, a mesma proibição existe nos jogos de futebol desde 1979.

As regras são tão rígidas que as autoridades já prenderam algumas mulheres que tentaram violá-las. Agora a Human Rights Watch pretende agir para acabar com tal restrição, garantindo que as leis iranianas envergonham o desporto e o país. 

Em 2014, Ghoncheh Ghavami, uma mulher com nacionalidade iraniana e britânica, foi condenada a um ano de prisão pelo tribunal iraniano por tentar assistir a um jogo de voleibol juntamente com outras mulheres. As jovens manifestaram-se fora do complexo desportivo exigindo liberdade para as mulheres comparecerem aos jogos. Foi acusada de “propaganda contra o Estado”. Segundo a imprensa britânica, Ghavami iniciou uma greve de fome que teve a duração de 14 dias. Por apresentar graves problemas de saúde e depois de pagar uma fiança, a jovem foi libertada.

Como se não bastassem as restrições aplicadas às mulheres, também as bonecas para crianças sofrem as limitações impostas pela política iraniana. Em 2012 a venda da mundialmente famosa boneca Barbie foi proibida no Irão. A boneca é considerada imprópria dos valores islâmicos e é vista como uma influência negativa dos valores “decadentes” da sociedade ocidental, considerados inapropriados e levianos pelas autoridades iranianas. Segundo o governo, a Barbie tem “um efeito negativo na educação das crianças”.

As autoridades produzem uma boneca islâmica chamada Sara, muito menos popular que a Barbie, que continua a ser vendida às escondidas, numa espécie de mercado negro.