PS. Assis quer juntar uma centena de militantes em almoço de contestação a Costa

PS. Assis quer juntar uma centena de militantes em almoço de contestação a Costa


Eurodeputado lidera oposição ao secretário-geral do PS e mobiliza descontentes com as opções do líder.


A “corrente crítica e alternativa do PS” lançada por Assis começa a ganhar forma nos bastidores. No próximo sábado, na Mealhada, o eurodeputado vai reunir-se com militantes que discordam da linha seguida por Costa: a de unir PS, PCP e BE para um acordo de governo. O objectivo é juntar mais de uma centena de participantes. “As pessoas convidam-se umas às outras, cada uma no seu distrito mobiliza as pessoas para fazer ali um momento de reflexão sobre o caminho que o PS está a seguir”, explica um ex-dirigente do PS que vai participar no encontro.

Entre os presentes vão estar vários elementos do núcleo duro de António José Seguro. São os casos de Álvaro Beleza, Eurico Brilhante Dias e João Proença. O encontro, no centro do país, é nacional. Por isso mesmo, não faltarão líderes ou ex-líderes das federações socialistas, como João Paulo Pedrosa (Leiria), Miguel Freitas (Faro), José Junqueiro (Viseu), António Gameiro (Santarém), Ricardo Gonçalves (Braga) e Vítor Baptista (Coimbra).

Em cima da mesa vai estar necessariamente o acordo entre PS, PCP e BE que, de resto, deve ser conhecido entre o final desta semana e o início da próxima, já que no dia 10 são votadas as moções de rejeição dos três partidos da esquerda parlamentar ao programa do governo PSD/CDS, levando à sua queda. “Nós não concordamos. Ninguém sabe de nada. As únicas coisas que sabemos é pela Catarina Martins e pelo Jerónimo de Sousa. Ela está a ser o pivô deste processo e neste momento já pode dizer que ela é que conseguiu descongelar as pensões, não foi António Costa”, dispara um ex-dirigente socialista.

Falta debate As facas vão estar afiadas entre os socialistas que questionam a legitimidade da direcção do partido para prosseguir as negociações com bloquistas e comunistas sem um debate alargado no órgão máximo entre congressos. “A ideia é reflectir sobre o momento actual e dizer que há gente no PS que defende outro caminho e dar nota de que isto não foi minimamente discutido no partido, porque só há um órgão que tinha capacidade para fazer um grande debate sobre esta matéria, que era a Comissão Nacional”, defende José Junqueiro ao i. 

“Vamos partilhar uma preocupação. Dar uma nota ao país e ao PS de que há gente que pensa de maneira diferente e fazer com que o secretário-geral ouça isto. Ele negociou com o PCP, com o Bloco, mas não falou ao seu próprio partido. Não teve preocupação nenhuma e o partido está nesta situação, está dividido”, atira Junqueiro.

O ex-deputado Ricardo Gonçalves, que vai estar na Mealhada, veio a terreiro esclarecer que a corrente Assis, como já é conhecida no Largo do Rato a iniciativa do eurodeputado, não irá traduzir-se numa rebelião na bancada socialista quando for votada a moção de rejeição do PS ao programa de governo. Desde logo, lembra o ex-parlamentar, porque há disciplina de voto. “Não vamos jogar na divisão, como é óbvio. Não há liberdade de voto e, portanto, isso só poderia acontecer com uma ruptura, e não queremos uma ruptura numa moção de rejeição do programa ou em moções de confiança”, frisou ao “Observador”.

PS Plural António Costa não deverá acusar publicamente o toque de Francisco Assis. Ou melhor,não deverá ir além do politicamente correcto. “OPS é um partido plural em que todos os militantes têm direito a expressar as suas opiniões”, ensaia fonte próxima de Costa, antecipando o guião do líder socialista para os próximos dias.
Na direcção do partido há quem questione o sucesso da corrente Assis. Desde logo, pelo timing em que é apresentada. “Há muita gente do PS que está contra este acordo. Mas isto ainda não acabou. Quando o PS está no poder, as correntes alternativas, que germinam nos corredores, acabam por perder palco”, ensaia um dirigente nacional do partido que já expressou internamente sérias dúvidas sobre o acordo que Costa tenta fechar com comunistas e bloquistas. 

Costa vai tentar chegar ao próximo congresso, que deverá ser agendado para depois das presidenciais, já empossado como primeiro-ministro e com um acordo sólido com bloquistas e comunistas. Se conseguir, adia a corrida à sua sucessão à frente do partido, tirando força às correntes alternativas que entretanto se formaram dentro do PS. O contrário dará a Assis a possibilidade de disputar pela segunda vez a liderança dos socialistas. A primeira foi em 2011, contra António José Seguro, para suceder a José Sócrates. Assis perdeu mesmo com o apoio dos costistas, que tentaram evitar que Seguro chegasse à liderança do partido. Sem sucesso, como se viu. Com Luís Claro