Os penáltis são como os chapéus do VascoSantana na “Canção de Lisboa”: há muitos.E tudo começa com um senhor norte-irlandês.
William McCrum, de seu nome, ilustre habitante de uma pequena vila chamada Milford, com apenas 400 habitantes, o bom homem (que morreria pobre e sozinho na véspera de Natal de 1932) está farto de ver jogadores serem derrubados quando se encontram em boa posição para marcar.
McCrum, guarda-redes da equipa local, Milford Everton, tem a ideia de criar uma área de penálti junto à baliza, em 1880.
Dez anos depois leva a ideia à federação norte-irlandesa, que aceita a sugestão numa base provisória, até que, em 1891, num jogo em Glasgow, há alguns problemas e decidem utilizar a solução, que se espalha pelo mundo, ao ponto (literal e metafórico) de já ter decidido finais de Taça/Liga dos Campeões (olhò Veloso), Europeus (olhò Panenka) e Mundiais (olhò Baggio).
Milford, a tal pequena vila escondida na Irlanda do Norte, está agora a ser ameaçada pelas gruas e pelos operários (em suma, pelo avanço imobiliário) e lança uma campanha para evitar que o campo onde se marca o primeiro penálti da história do futebol seja destruído pelos buldozers. Em terreno sagrado não se toca, pois então.
Alheio a essa polémica, Teo Gutiérrez.Embora os 11 metros do ponto de penálti à baliza também não sejam assim tão perto como toda a gente julga. “Entre o apito do árbitro e o meu primeiro passo para o remate sinto-me sempre ligeiramente nervoso. Nada de especial. É apenas aquele natural friozinho na barriga. Mal a bola entra, tudo isso fica lá para trás, no esquecimento.” Diz o colombiano, cujo último penálti decisivo data de 11 deSetembro de 2011. Pelo Racing, então treinado por DiegoSimeone. Vejam–se bem as voltas deste mundo. Acaba1-0 vs. Olimpo de Bahía Blanca.
Quatro anos e tal depois, eis Teo na dúvida existencial dos 11 metros. E outra equipa de amarelo, agora oEstoril. O avançado é carregado em falta indiscutível, o problema é ter partido em fora--de-jogo.Daí os protestos do Estoril. Nada feito, Teo concentra-se e atira para o golo. Um-zero. E não mexe mais. É a segunda vitória do Sporting neste campeonato selada com penálti, após aquela logo a abrir, em Aveiro, com o Tondela (2-1).
Isso é neutro. Ou fora, como queiram.Em casa quantas vezes é que o Sporting ganha 1-0 de penálti? Dez.Antes de Teo, havia sido Wolfswinkel vs. Benfica de Jesus em Abril de 2012 – também aqui mal assinalado, porque Luisão faz falta fora da área e o holandês aguenta uns metros para só cair dentro, de acordo com Artur Soares Dias.
Bom, Sporting tem dez penáltis de 1-0 em casa. Cinco deles no século passado, só três de portugueses (João Morais, o primeiro de todos, em 1968, vs.Sanjoanense; e dois de Jordão, ambos em 1983). E o Benfica, tem quantos? Oito, o último é aquele à Académica de Pedro Emanuel aos noventa e tal minutos.Marca-o Lima, curiosamente o único estrangeiro – Eusébio-2, Paneira-1 e Simão-4.
Dez do Sporting mais oito do Benfica faz 18, precisamente o número do Porto. Desses 18, só um repetente: Timofte vs. Benfica e Salgueiros. De resto é uma salganhada de nomes, de Catolino 1947 a Josué 2013. Ai ai se McCrum soubesse.