PS. Críticos do acordo à esquerda desafiam Assis a avançar para a liderança

PS. Críticos do acordo à esquerda desafiam Assis a avançar para a liderança


Avanço do eurodeputado numa frente contra a direcção de António Costa é aplaudida internamente. Assis já pensa no congresso do PS.


O anúncio de que Francisco Assis vai liderar uma frente contra  a estratégia de António Costa foi recebido com elogios entre os críticos do líder do PS e do acordo à esquerda.

O eurodeputado revelou este sábado ao “Expresso” que prepara uma “corrente crítica e alternativa no PS” – que juntará os socialistas que discordam da aliança com os comunistas e o Bloco – e já há quem olhe para a iniciativa como o germinar de uma candidatura à liderança. João Proença, membro da comissão política do PS e ex–membro do secretariado nacional, dos tempos de António José Seguro, acredita que Assis “será candidato” à liderança dos socialistas, quando for aberta a corrida à sucessão a Costa, que perdeu as eleições de 4 de Outubro e se prepara para formar governo com o apoio parlamentar do PCP e do BE, depois de rejeitar o programa da coligação PSD/CDS (a rejeição está agendada para dia 10).

Ao i, o ex-líder da UGT admite que este “é o momento de afirmar uma alternativa e de começar a preparar o congresso”, que deverá realizar-se a seguir às presidenciais. João Proença tem alertado internamente para o “caminho perigoso que o PS está a seguir” e garante que estará ao lado de Francisco Assis na corrente interna que o eurodeputado vai oficializar no partido e que poderá servir para lançar as bases para uma futura corrida à sucessão de Costa. 

Outro segurista que pertence à comissão política reconhece que o debate proposto por Assis “faz falta neste contexto”, em que o PS faz uma viragem à esquerda. “Ele é deputado europeu, tem responsabilidades e ganhou as europeias, o que lhe dá legitimidade para liderar este processo.”

Aliás, há mesmo quem considere que a “corrente crítica e alternativa no PS” proposta por Francisco Assis só faz sentido se o eurodeputado avançar com uma candidatura à liderança. É o caso de José Lello, crítico da aliança entre PS, PCPe bloquistas. “Penso que só assim é que fazia sentido”, admite, em declarações ao i, o ex-deputado. 

Mas José Lello lembra que o quadro que vai chegar ao próximo conclave não é totalmente conhecido. “É preciso saber primeiro se há ou não governo do PS com os outros partidos. Aestabilidade da liderança doPS depende da estabilidade do governo do PS com o apoio do PCP e do BE”, sublinha.  

Já Carlos Zorrinho, que se mostrou céptico em relação ao acordo, recusa comentar a iniciativa do seu colega em Bruxelas, mas não deixa de acentuar que “a diversidade e o debate interno são a prova da vitalidade de um partido”. 

Acordo à esquerda

Em vésperas de o PS fechar acordo com comunistas e bloquistas os sinais não são os mais optimistas para os críticos da solução. “Aquilo que ouço da parte do PCP não é exaltante. E o que ouço do BE também é muito ligeiro. Acho que uma solução do país deve ser mais consistente”, alerta o ex-deputado José Lello, para sublinhar que “nunca esta opção [acordo com os partidos à esquerda do PS] foi objecto de um debate interno profundo e alargado”.

Mota Andrade alinha na mesma tese. O ex-deputado socialista nota que “é muito mais aquilo que separa o PS dos partidos da esquerda do que aquilo que aproxima”. O socialista vê por isso com bons olhos a corrente proposta por Assis, desde logo porque “há uma percentagem de eleitores do PS que não se revê no que se está a passar e há que dar resposta a estes eleitores”. Se Assis quiser, “tem todas as condições para ser candidato” à liderança, remata o ex-vice–presidente da bancada do PS. 

Avanços e recuos Francisco Assis esteve ao lado de António Costa durante a campanha para as legislativas. A 1 de Outubro era categórico ao afirmar ao i que não seria candidato à liderança do partido, se as eleições corressem menos bem para oPS. “Não, não, não. Não estou. Estou completamente fora disso. Estou no Parlamento Europeu e estou a gostar imenso do que estou a fazer. Tenho também uma responsabilidade grande, porque fui cabeça-de-lista e por isso não tenho nenhuma disponibilidade para outra coisa que não seja fazer isso.”

Mas a seguir às eleições, em entrevista à RTP, deixou a porta entreaberta:“Eu assumo as minhas responsabilidades, estaria mais tranquilo em Bruxelas […] Vim aqui, estou aqui porque estou a assumir as minhas responsabilidades […] Podem contar comigo para tudo no PS”, clarificou. As divergências entre o eurodeputado e o líder do PS são profundas. Disso mesmo deu conta Francisco Assis num artigo de opinião no “Público”, a 22 de Outubro, em cima das visitas de Costa às sedes do PCP e do BE. “Sou frontal e absolutamente contra a ideia de constituição de um qualquer governo assente numa hipotética maioria de esquerda”, escreveu. 

E disse mais:“O PS devia assumir em toda a plenitude o estatuto de principal partido da oposição, impondo sérias limitações à acção do governo e não desvalorizando as convergências possíveis com os partidos situados à sua esquerda.” Estava aberta, mesmo que não oficialmente, “a corrente crítica e alternativa no PS”. As primeira reunião entre Assis e os críticos poderá acontecer já no final desta semana no centro do país, de acordo com o “Diário de Notícias”.