Apesar de estar doente, José Fonseca e Costa não queria deixar de realizar “Axilas”, filme baseado num conto do escritor brasileiro Rubem Fonseca (publicado pela Sextante no livro “Axilas e Outras Histórias Indecorosas”) e com argumento de Mário Botequilha. Esteve a trabalhar “praticamente até ter forças”, disse ontem à Lusa Paulo Branco, que estava a produzir o filme. “Felizmente ele conseguiu filmar não a totalidade, mas quase e temos todos os elementos para poder acabá-lo. Exerceu aquilo que mais gostava, que era a sua actividade de realizador, até ao fim.”
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“Axilas” vai encerrar o extenso currículo do cineasta conhecido por filmes como “Kilas, O Mau da Fita”, de 1980, com banda sonora de Sérgio Godinho e um dos maiores êxitos de bilheteira do cinema nacional (na altura a ultrapassar os 100 mil espectadores).
O realizador morreu ontem de manhã aos 82 anos no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, “vítima de uma pneumonia, na sequência de uma pré-leucemia”, avançou o“Expresso”. “Um dos mais importantes vultos do cinema português”, continua Paulo Branco, “deixa uma obra que toda a gente conhece e espera-se agora que possa ser revista”.
José Fonseca e Costa nasceu em Caála, em Angola, em Junho de 1933 e mudou-se para Lisboa em 1945 onde chegou a frequentar o curso de Direito mas não o acabou – para se dedicar a actividades relacionadas com o cinema. Traduziu livros de autores como Serguei Eisenstein e começou por fazer crítica de cinema em revistas como a “Imagem” e a “Seara Nova”. Viveu em Itália onde estagiou como assistente nas filmagens de “O Eclipse”, de Antonioni, lançado em 1962.
Poucos anos depois voltava para Lisboa para dirigir filmes publicitários e documentários turísticos, como por exemplo a curta-metragem “A Metafísica dos Chocolates”, de 1967, filmada em locais como a Fábrica Regina e com a leitura do poema “Tabacaria”, de Fernando Pessoa ou “A Cidade”, sobre a cidade de Évora.
“O Recado”, de 1972, com Maria Cabral e José Viana, marca a sua estreia na ficção e surge como uma das obras mais representativas do Novo Cinema, o movimento vanguardista em pleno Estado Novo. Já no pós-25 de Abril participava no filme colectivo “As Armas e o Povo”, em 1975, ao qual se seguia “Os Demónios de Alcácer Quibir”, sobre o colonialismo, e seleccionado para a “Quinzaine des Réalisateurs” do Festival de Cannes.
Depois de “Kilas, O Mau da Fita”, com um argumento da sua autoria, outro dos seus sucessos comerciais foi “A Balada da Praia dos Cães”, de 1985, uma adaptação do romance com o mesmo nome de José Cardoso Pires, com Raul Solnado e com a sua irmã, a actriz Cucha Carvalheiro.
Em 1996, realizou “Cinco Dias, Cinco Noites”, com Vítor Norte e Paulo Pires, numa adaptação do romance de Álvaro Cunhal (com o pseudónimo Manuel Tiago). Em 2009 voltava a homenagear Fernando Pessoa com “Os Mistérios de Lisboa or What the Tourist Should See”.
Em 2014, a Academia Portuguesa de Cinema homenageava-o com o Prémio de Carreira.
O funeral do realizador realiza-se amanhã, terça-feira.
Com Lusa