Vai haver acordo à esquerda e António Costa está em condições de apresentar uma alternativa de governo quando o executivo de Passos – que ontem tomou posse no Palácio da Ajuda – for derrubado na Assembleia, no dia 10 de Novembro.
As negociações prosseguem mas, segundo apurou o i, as equipas negociais já não acreditam que possa haver recuo. Ou seja, independentemente dos caminhos para chegar a um acordo, as três partes estão absolutamente convencidas de que vai haver acordo. “Um recuo nesta altura seria mau para os três partidos”, defende ao i uma fonte ligada ao processo. Outra, menos catastrófica sobre as consequências políticas de um não acordo, aposta “as fichas todas em que o acordo vai ter um desfecho bem-sucedido”.
Suavizando o discurso da véspera de Jerónimo de Sousa, que tinha afirmado que as negociações com o PS eram “inconclusivas”, o líder parlamentar do PCP, João Oliveira, veio dizer que o partido não sente “instabilidade nenhuma” no processo negocial.
“Da nossa parte não sentimos instabilidade nenhuma na discussão que temos estado a fazer e continuamos a fazer, de forma séria e aprofundada, procurando encontrar as políticas que respondam à situação do país”, afirmou João Oliveira no parlamento.
O líder parlamentar do PCP assinalou as “diferenças de perspectiva” relativamente ao PS, mas fez questão de vincar que as negociações continuam a decorrer “sem instabilidade e sem perturbação”.
“A durabilidade de qualquer solução governativa resulta das opções políticas que sejam feitas”, disse o dirigente comunista, que voltou a contestar a opção de Cavaco Silva de ter empossado ontem Pedro Passos Coelho como primeiro-ministro.
“É cada vez mais clara a extensão e dimensão da responsabilidade [de Cavaco] pela instabilidade que criou no país ao decidir indigitar Passos Coelho para formar governo”, disse João Oliveira.
PS defende “estabilidade”
O PS utilizou o discurso do Presidente da República, que defendeu como sempre a estabilidade governativa, para explicar que, desta vez, a estabilidade está nas mãos do PS. Foi o que disse ontem na Assembleia da República Carlos César, presidente e líder do grupo parlamentar do PS. “Subscrevemos [na declaração do Presidente] que o nosso país, sem estabilidade, não tem governabilidade e, por isso, temos insistido que este governo empossado tem um potencial de instabilidade e tem o vírus da sua incapacidade na promoção de uma maioria parlamentar.” Assim, “na esteira das preocupações do Presidente da República, é justamente isso que o PS tem vindo a desenvolver através de contactos com outros partidos políticos, goradas que foram as negociações com o PSD e com o CDS”, disse Carlos César.
Desta vez, o PS foi cordial na reacção ao discurso do Presidente da República. Optou, aliás, por “comungar” das preocupações do chefe de Estado.
“O PS tem consciência da situação que o país hoje atravessa e não pode deixar de subscrever, entre outros aspectos, algumas das considerações feitas pelo sr. Presidente da República, desde logo o reconhecimento das fragilidades económicas, sociais e financeiras que o país atravessa e conserva – fragilidades que contrastam com a propaganda eleitoral que foi feita pela direita ao longo da campanha e que ainda hoje esteve presente em algumas passagens do discurso do primeiro-ministro”, disse ainda César, que voltou a concordar com o Presidente “no que concerne à necessidade de o governo que vier a ser constituído estar em sintonia com os compromissos europeus e internacionais do país.”
O PS, afirmou, “tem vindo a trabalhar para a existência de um governo cujo programa tenha aspectos salientes de recuperação do rendimento das famílias, criação de condições de investimento privado, reorientação do investimento público, com uma trajectória orçamental garantida e com respeito pelos compromissos assumidos com a União Europeia, no âmbito da zona euro e dos demais compromissos internacionais. Esses esforços estão a caminhar bem”. Com Humberto Costa e Lusa