Bambi. Não lhe chamem Banksy

Bambi. Não lhe chamem Banksy


Ficou conhecida com o stencil que pintou de Amy Whinehouse depois da sua morte e as celebridades fazem fila para ter uma obra sua. Mas apenas três pessoas sabem quem é: o seu agente, a sua mãe e o próprio Banksy.


A experiência de tentar contactar com Bambi (ou quem quer que seja suposto responder do outro lado quando se envia um email para Bambi) assemelhar-se-á a atirar qualquer coisa para um buraco negro. E não é por estarmos a falar de uma personagem da Disney, porque não estamos, falamos de Bambi, a artista urbana londrina sobre quem durante muito tempo não se soube mais do que isto que acabámos de dizer e que, não será difícil perceber porquê, é normalmente conhecida como o Banksy feminino (“female Banksy” soará sempre melhor e talvez assim o nome já lhe diga qualquer coisa). 

Mesmo já tendo sido detida duas vezes, Londres e o mundo continuam a não saber quem é a misteriosa artista que já vendeu trabalhos a famosos como Brad Pitt ou Kanye West. Resta saber por quanto tempo. É que nas raras entrevistas que tem dado à imprensa britânica tem revelado pormenores da sua vida, incluindo a sua carreira paralela como cantora. Especula-se sobre vários nomes. Mas já lá vamos.

Bambi, que parece ter sido escolhido a dedo para fazer parelha com Banksy, mas não foi – na verdade é o diminutivo do italiano “bambina” pelo qual o seu pai a trata desde criança – apareceu pela primeira vez em 2010, numa tag cor-de-rosa com um veado (aí sim, uma referência ao próprio veado da Disney). Mas foi no ano seguinte que o mundo acordou para ela, quando, para assinalar o dia em que Amy Whinehouse faria 28 anos, dois meses após a sua morte, Bambi assinou um stencil em que a cantora aparecia de vestido amarelo numa porta em Camden. Houve depois outros, pelo menos mais dois com Whinehouse. Bambi já disse que a conhecia.

Não só Whinehouse. As suas obras, cujos valores já ascendem nalguns casos às dezenas de milhares de libras, são cobiçadas por figuras como Rihanna, Robbie Williams ou Brad Pitt, que pagou 60 mil libras (84 mil euros) por um retrato do William e Kate no seu casamento com a frase “A bit like Marmite”. Famosos são também o retrato de Cara Delevingne, que a actriz Michelle Rodriguez, então sua namorada, encomendou para oferecer à modelo, ou aquele que Kanye West ofereceu a Kim Kardashian quando se casaram, em que ela aparece quase nua, de costas, com a frase “Perfect Bitch”. 

Pintou também David Beckham, que pelos vistos a conhece mas não sabe quem é. “Conheci David Beckham na minha vida como cantora – é muito sexy – mas não faz ideia de que eu sou a Bambi”, disse a artista ao “Daily Mail”. 
Mas quem será Bambi afinal? Esse mesmo jornal, um dos poucos que conseguiram até agora falar com ela, descreveu-a como uma figura estilo James Bond, que conduz um Aston Martin e veste Vivienne Westwood. Além de ser cinturão negro em karaté. Pelo seu site sabe-se também que nasceu em 1982 e numa entrevista recente ao “Guardian” contou que foi em criança que começou a pintar com latas de spray: uma oferta dos próprios pais. Depois de ter admitido que tem uma carreira paralela de artista, chegou-se a dois nomes que batem mais ou menos certo com aquilo que se sabe da artista: Paloma Faith e M.I.A. (bate tudo certo: o mestrado na escola de Artes da Central Saint Martins, em Londres, a infância passada entre vários países… é fácil encontrar sites em que se fazem as comparações com cada uma). Mas há também teorias que apontam para Victoria Beckham (lembra-se do que ela disse sobre o futebolista?), a também ex-Spice Geri Halliwell ou ainda (e esta deixa toda a gente admirada) Adele. 

Todos se questionam sobre por quanto tempo poderá Bambi continuar escondida. Mas Michael Sakhai, seu agente e director da Walton Fine Arts, em Londres, que juntou os trabalhos da artista com os de Banksy na exposição “When Banksy meets Bambi”, já disse que apesar de todo o buzz em torno da artista, ela está determinada a manter o anonimato: “Ela tornou-se num verdadeiro fenónemo e é muito falada em todo o mundo, mas quer continuar escondida.” Pelo que se sabe, só ele, a mãe de Bambi e o próprio Banksy conhecem a sua verdadeira identidade.

O “Daily Mail” já escreveu mesmo um título que dizia “Bye bye Banksy, hello Bambi”. Não admira a comparação. Tanto pelo mistério em que está envolta, como pelo estilo, apesar de o trabalho de Banksy ser mais politizado e de o universo de Bambi girar muito em torno da cultura pop, das celebridades e da moda. O que também faz sentido. Ainda assim, numa entrevista publicada pelo “Guardian” na semana passada, quis mostrar-se muito mais do que isso. E do que um Banksy feminino. A comparação, disse, é o exemplo perfeito de que vivemos numa sociedade dominada por homens. Os homens ditam o padrão e as mulheres são julgadas com base nisso.” Por isso digam dela o que quiserem, só não lhe chamem Banksy.