O impasse político em que o país mergulhou após as eleições de 4 de Outubro ainda não fez disparar os alarmes no sector bancário, mas multiplicam-se os avisos à medida que parece cada vez mais certa a queda do governo de Passos Coelho.
Nuno Amado, presidente do Millenium BCP, lembrou ontem que o novo executivo, independentemente de ser de direita ou de esquerda, tem de ser “estável a longo prazo” e precisa “cumprir de forma adequada os compromissos de Portugal”.
A dias da tomada de posse do governo de Passos, que venceu as eleições, e com a iminência da sua queda provocada pela esquerda parlamentar – PS, BE, PCP vão apresentar uma moção de rejeição ao programa de governo da coligação PSD/CDS – , Nuno Amado sublinhou ainda que o não cumprimentos destes “princípios base” criaria um “clima de instabilidade que vai ser negativo para as condições de financiamento da República Portuguesa e das entidades que trabalham e actuam em Portugal e muito negativa para o investimento”.
Além disso, o banqueiro sinaliza uma preferência: que o novo executivo assegure “alguma estabilidade na componente fiscal”. “Há um conjunto de processos de investimento e de análise que confiam numa certa estabilidade fiscal, pelo que seria na minha opinião positivo, pelo menos a curto prazo, para o país podermos manter essas condições”, defendeu.
Na mesma linha, Faria de Oliveira, presidente da Associação Portuguesa de Bancos, defendeu que o executivo tem “a obrigação” de procurar encontrar as soluções que mais contribuam para o progresso, para maior crescimento e melhores condições de vida dos portugueses”, acrescentando que “o que mais desejamos é que governe bem, que actue de maneira a poder contribuir para que Portugal progrida, se aproxime mais dos países do centro da Europa, e não ande para trás”.
Faria de Oliveira, que falava à margem da conferência “Sector Bancário Português: a Supervisão e a Regulação. Que regras para uma efectiva estabilização do sistema financeiro e a recuperação da sua credibilidade”, organizada pela UGT, lembrou ainda que é fundamental que “sejam devidamente ponderadas e sejam tomadas as iniciativas conducentes a um clima de estabilidade”.
Ulrich evita dramatizar Já o presidente executivo do BPIevitou alinhar na “dramatização” que tem sido feita nos últimos dias e garante que vê com “tranquilidade e normalidade” o impasse político. E ainda ironizou: Portugal em comum com Cuba “só tem as praias óptimas”.
Fernando Ulrich recusou, por isso, fazer comentários que possam ser interpretados como “críticas ou pressão”, sublinhando que “os portugueses votaram e agora cabe aos políticos eleitos entenderem-se sobre o que acontece a seguir”. E concretizou:“Tivemos eleições e agora é o tempo dos políticos. Compete ao Presidente da República e aos partidos políticos cumprirem a Constituição e darem os passos seguintes. […] A última coisa que queria era fazer algum comentário que pudesse ser mal interpretado, como se criticasse o voto das pessoas, o que seria idiota da minha parte, ou como se estivesse a colocar pressão sobre quem tem responsabilidades”.
Numa alusão à crise económica, o banqueiro sublinhou que “o país está melhor, as contas estão melhores, o desemprego está mais baixo”. Quanto ao futuro, deixou uma nota de esperança: “o que quer se seja que aconteça proximamente venha na mesma linha de estabilidade e de entendimento entre os portugueses”, rematou.