Guilherme Cossoul deve ter sido o único a nunca entrar na associação com o seu nome. O músico e compositor que chegou a ser maestro da orquestra de São Carlos e director da escola de Música do Conservatório de Lisboa – além de fundador da Associação dos Bombeiros Voluntários de Lisboa, coisas que se aprendem na internet – morreu em 1880 e cinco anos depois surgia a sociedade em sua homenagem.
“Nasceu há 130 anos, curiosamente só depois de Guilherme Cossoul ter morrido”, conta Miguel Santos, actor e actual presidente da associação. “Um grupo de 47 ex-alunos seus juntou-se nessa altura para fundar aqui a Guilherme Cossoul, sempre muito ligada à instrução e à música.”
À porta, no número 61 da Av. Dom Carlos I, a placa não engana: “Sociedade de Instrução Guilherme Cossoul.” Estamos numa “sociedade sem fins lucrativos” centenária, nas mesmas instalações da fundação, mas à primeira vista nada o indica. Esta não é a típica associação com mais de 100 anos em que apenas encontramos velhotes de quase 100 anos a jogar às cartas, uma TV a passar futebol e paredes decrépitas.
No bar de apoio há uma extensa lista de whiskies e gins, alguns petiscos, e só nos corredores nos apercebemos das referências às figuras do teatro que fizeram a história da Guilherme Cossoul ao longo destes 130 anos, cumpridos a 7 de Setembro. “José Viana, Henrique Santana, Jacinto Ramos, Fernando Gusmão, Artur Semedo, Rogério Paulo, Carlos Avilez,Varela Silva, Fernanda Alves, Glicínia Quartin,…”
Numa enorme moldura à entrada, brinca-se com a verdadeira pergunta para quiz: “Onde está Raul Solnado?” Na fotografia de um dos bailes da associação, quase todos os pares no salão olham para a câmara com um ar sério. Em primeiro plano, o jovem Raul Solnado, sem par, sorri – está desvendado o mistério. “Foi aqui que ele se estreou no teatro”, continua Miguel. “Aliás, antes de morrer dava aqui um curso de teatro.” Agora dá nome à sala de espectáculos que dentro de pouco tempo deverá receber mais um ensaio para a próxima peça ou mais uma aula de música. A
Guilherme Cossoul não pára e até tem uma livraria no rés–do-chão e uma editora, a Artefacto.
“Por ano temos 10 mil espectadores, mais de 200 espectáculos, desde concertos, stand-up comedy a lançamentos de livros”, fazem as contas. É com as receitas dos espectáculos que vão suportando custos, até porque o valor da quota de sócio, “o mesmo há 15 anos”, é irrisório: 1,5 euros por mês.
Nos últimos anos, a Guilherme Cossoul tem vindo a ganhar popularidade – e novos clientes – graças às noites de quiz às quartas-feiras, com perguntas de cultura geral. Na última quarta de cada mês há “quiz em cascata”, o que significa que as perguntas são direccionadas para uma equipa específica e as respostas têm de ser imediatas.
Se algum dia lhe fizerem uma pergunta sobre a própria Guilherme Cossoul, convém que tenha algumas curiosidades na ponta da língua. Por exemplo, saber que foi aqui que “uma peça de Harold Pinter estreou em Portugal”, conta Miguel, ou que era conhecida como “o Conservatório da Esperança”, também pela sua proximidade à Rua da Esperança. “Amélia Rey Colaço vinha aqui de propósito do Teatro Nacional ver peças e buscar actores, encenadores e autores.”
www.guilhermecossoul.pt