begin.media. A plataforma de hoje para os jornalistas de amanhã

begin.media. A plataforma de hoje para os jornalistas de amanhã


Site pretende ser uma montra para os “beginners” no jornalismo publicarem as suas peças. As vantagens são as contribuições dos leitores e o acompanhamento de profissionais experientes na área


Rita Marques Costa quer ser jornalista desde que se lembra de ser gente. Quando terminou a licenciatura em Ciências da Comunicação estava “superpositiva” e acreditava que ia conseguir arranjar emprego na sua área, mas um estágio curricular, em que não podia assinar as suas peças foi, no mínimo, “desmotivador”. Tentou a sua sorte em Londres mas odiou estar longe de casa. Regressou e está a trabalhar numa revista do sector agrícola: “Não é a melhor coisa do mundo. A agricultura é uma área gira e dinâmica, mas fico fechada num só tema. Quero ser jornalista para falar sobre vários assuntos e contar histórias.” A boa notícia chegou por email.

O núcleo de integração profissional da faculdade deu-lhe a conhecer a begin.media, uma plataforma online para jornalistas em início de carreira publicarem os seus artigos. “A ideia surgiu da necessidade de ajudar as centenas de jovens que todos os anos saem dos cursos de Comunicação Social e não encontram espaço no mercado de trabalho”, explica Marta Velho, uma das fundadoras do projecto. A entrega de Marta a esta causa vem de longe: “Fui também uma das fundadoras da Associação Portuguesa de Jovens Jornalistas, por isso estava muito ligada a estas questões. Sabia bem como o mercado estava.”

As vantagens da begin.media, lançada na passada segunda-feira, são mais que muitas: o trabalho de um “beginner”, assim se chamam os jornalistas presentes na plataforma, é acompanhado por um mentor e, quando o trabalho é lançado, são também tornados públicos variados dados sobre a mesma. Por exemplo: quanto tempo um jornalista demorou a escrevê-la, quantos quilómetros teve de percorrer, quantos minutos de chamadas foram gastos e quantas refeições fez. 

Apenas é possível ler o primeiro parágrafo de cada peça. Para ler o restante tem de se ajudar o beginner com um pagamento. “Para trabalhar há sempre custos”, considera João Pedro Machado, outro dos fundadores do projecto. “O leitor, para desbloquear o artigo na plataforma, tem de fazer uma contribuição num dos custos que existiram para aquele artigo ter sido escrito”, acrescenta.

As contribuições são sempre em dinheiro e todo o valor que uma peça conseguir amealhar reverte a favor de quem a escreveu. Tornar públicos os diversos gastos na elaboração da peça tem a ver com “as pessoas não pagarem por conteúdo, porque simplesmente não o valorizam o suficiente”, considera Marta Velho. A equipa  arranjou esta maneira de dar a volta ao assunto: “Criámos esta forma de mostrar que fazer um artigo dá trabalho. Na verdade, termos as divisões – custos com refeições, comunicações, deslocações – ou dizer ao leitor que pague pelo trabalho tem o mesmo efeito. Mas a questão é mudar as mentalidades”, afirma, acrescentando que o que querem é sensibilizar os leitores para o trabalho dos jornalistas. 

A contribuição que um “beginner” recebe pode ser infinita. João Pedro Machado revela que, além de não haver um valor máximo, “nas redes sociais há sempre artigos virais que até podem ter demorado 15 minutos a fazer mas são tão geniais que podem trazer um retorno muito grande”. Deste modo, há um incentivo para que os jornalistas escrevam o máximo de artigos possível porque cada um é uma fonte de rendimento: “Mas há também um controlo de qualidade”, destaca.

Montra Num mercado de difícil entrada, a begin.media quer ser a montra dos jornalistas de amanhã. “Temos um ‘beginner-tipo’, que são os recém-licenciados em cursos de Jornalismo ou de Ciências da Comunicação. Mas estamos abertos a todos os que queiram participar, não fechamos as portas a ninguém”, destaca Marta Velho. A plataforma aceita artigos de fundo, como entrevistas, reportagens, perfis ou análise, mas não publica notícias nem opinião. “Ninguém vai pagar por uma notícia que está na begin.media mas pode estar noutros sítios. Queremos ser uma plataforma de histórias”, dizem.

Antes do lançamento, a plataforma teve cerca de 400 candidaturas. O trabalho da begin.media com um beginner está completo quando algum órgão de comuncação social quiser contratar o aprendiz, mas Marta considera que há muitas pessoas que querem usar a plataforma sem ter o objectivo de entrar no mercado de trabalho: “Penso que há beginners que querem só publicar na begin.media e ter retribuição. E aqui têm acompanhamento editorial.”

O objectivo é dividir a plataforma em várias vertentes: o acompanhamento dos mentores, a publicação dos trabalhos e a remuneração, e, no futuro, estabelecer parcerias com órgãos de comunicação social para terem acesso aos trabalhos antes de serem publicados na begin.media, com a eventual hipótese de sair numa publicação nacional: “Não há possibilidade maior para quem está a começar que ter a sua peça num jornal”, explica João Pedro Machado. 

No futuro, a plataforma quer também ter espaço para outros géneros jornalísticos: “Temos muitos beginners interessados em publicar trabalhos em vídeo e áudio. O nosso problema tem sido a gestão das ideias. Não nos queremos atropelar e temos também de gerir custos.” De qualquer forma, todas as propostas que a plataforma recebe são enviadas a mentores que escolhem quais podem e querem acompanhar. Mas nada fica por publicar: “As que não são escolhidas por mentores são revistas por nós”, afirma Marta Velho. 

A begin.media conta com seis mentores – António Esteves, David Dinis, João Paulo Marques, José Carlos Araújo, José Gabriel Quaresma e Nuno Azinheira – “nenhum deles difícil de convencer” a embarcar no projecto. “Estão a ajudar quem quer ser ajudado. Pessoas que não conseguiram entrar no mercado mas não desistiram. São lutadores”, considera João Pedro Machado. 

Web Summit A equipa – Marta Velho, JoãoPedro Machado e Marília Abrantes, esta última responsável pela área de social media – quer levar a plataforma à internacionalização: “Há beginners em todo o mundo”, destacam. Para tal, o primeiro passo será ir a Dublin, participar na Web Summit, o maior evento internacional de tecnologia. 

Estão de malas feitas para, já na próxima terça-feira, porem mãos ao trabalho: “Vamos com uma postura de receptividade. Receber know-how e conhecimento de outras start-ups. Se sairmos de lá com um investimento, ainda melhor”, revela Marta. E prometem: “Temos uma surpresa que será lançada durante a Web Summit.” É esperar para ver…

 

Conselhos para ser um bom “beginner”

A equipa da begin.media deixa cinco dicas que todos os “beginners” devem seguir: 
•  Ler notícias e manter-se actualizado
•  Cumprir prazos
•  Enviar propostas com temas e abordagens originais
•  Respeitar as regras do jornalismo e do português
•  Aprender, crescer e aproveitar todas as oportunidades que a plataforma lhe oferecer