A Austrália, um dos maiores exportadores mundiais de carne, ridicularizou o relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS), considerando uma “farsa” sugerir que carne processada pode ser tão letal como o tabaco. “Não deve ser comparada aos cigarros e obviamente isso faz com que tudo isso seja uma farsa – comparar salsichas a cigarros”, afirmou o ministro da Agricultura australiano, Barnaby Joyce.
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O responsável chamou a atenção para a necessidade de garantir uma “dieta equilibrada”, dado que é impossível para os humanos evitar todo o tipo de cancro causado por toxinas na vida moderna.
O ministro da Agricultura disse ainda que “se tivermos em conta tudo que a Organização Mundial da Saúde afirma ser cancerígeno e tirarmos das necessidades diárias, somos capazes de voltar à caverna”, sublinhou. O certo é que os australianos estão entre os maiores consumidores de carne do mundo, mas também têm a oitava maior taxa de incidência de cancro colorrectal.
Mas as críticas não ficam por aqui. O instituto americano da carne (NAMI) considerou que o relatório da OMS constitui um “desafio ao senso comum” e acusa os responsáveis do estudo por “triturarem os dados para chegarem a um resultado específico”. E vai mais longe: “Se pegássemos na lista da Agência Internacional para a Pesquisa sobre o Cancro (IARC), que funciona sob a égide da OMS, ficaria claro que o simples facto de viver na Terra seria um risco de cancro.” O NAMI acrescenta: “A ciência tem mostrado que o cancro é uma doença complexa que não é causada apenas por alguns alimentos.”
Um argumento reproduzido praticamente de forma idêntica pelos industriais europeus. “É inadequado atribuir um único factor a um risco aumentado de cancro. É um assunto muito complexo que pode depender de uma combinação de muitos outros factores.”
Já o Brasil, o segundo maior produtor de carne bovina, alerta para os benefícios nutricionais para a saúde humana trazidos pelo consumo de carne vermelha e de outras proteínas animais. Mesmo que “o consumo excessivo de carne não deva ser promovido”, é possível “ter prazer e obter um equilíbrio nutricional” nas refeições combinando carne e legumes, afirmam os exportadores.
A verdade é que o consumo de carne tem vindo a diminuir nos últimos anos, efeito da crise económica, mas também das críticas sobre o impacto que a dieta carnívora tem sobre a saúde e o meio ambiente. Só o Brasil e a China têm registado subidas no consumo, que aumentou em 15% entre 2008 e 2014 neste país, enquanto recuou nas mesmas proporções na União Europeia.