MoCCA. O museu desenhado a cores e o homem que o fundou

MoCCA. O museu desenhado a cores e o homem que o fundou


Larry Klein criou o Museu da Banda Desenhada e do Cartoon de Nova Iorque em 2001. Esteve no Amadora BD e disse-nos que tudo começou pelos miúdos.


Não era nada disto que esperávamos mas, pensando bem, a surpresa torna tudo muito mais interessante. Porque é que se abre um museu dedicado à banda desenhada e ao cartoon? Por causa da família em particular e das crianças em geral. E este cuidado não está em nada relacionado com super-heróis e a admiração que é costume despertarem nos mais novos – zero. Larry Klein teve a ideia e resume-a, quase 15 anos depois, assim: “Achei que uma organização sem fins lucrativos era uma boa ideia.”

Ainda em 2001, recuperemos a história. Larry era advogado com pouca saída, a mulher professora com segurança relativa e, contas feitas, era difícil que os números garantissem o que era preciso para os garotos. “Lembro-me que na altura estávamos a viver o boom das ‘.com’, havia muito dinheiro mas estava todo concentrado no mesmo sítio”, diz-nos Larry.

A situação em casa era a mesma de muitos que via em quase toda a parte (Nova Iorque era a cidade em questão), mas angariar dinheiro da forma mais habitual era apenas “burocracia que normalmente não acaba com quem precisa”. Klein viu que uma organização sem fins lucrativos era boa ideia, estava decidido. E foi por aí que entrou o tema “velha paixão” – sim, também há disso neste caso, desde miúdo, como se quer.

O MoCCA – Museu da Banda Desenhada e do Cartoon (Museum of Comic and Cartoon Art, no original) – não tem como objectivo principal “o coleccionismo ou a acumulação de obras de grande valor”. Larry preocupa-se antes “com a preservação desta arte através da sua divulgação, com exposições e actividades pedagógicas, fazendo uso de uma localização privilegiada, no meio de Manhattan”.

Ainda que tenha sido recebido com desdém – “diziam ‘mais um tipo que vai abrir um museu de BD para o fechar logo a seguir’”, conta –, Larry Klein sabia que tudo iria correr de maneira diferente por uma razão essencial: “Ao contrário de quase todos os museus deste tipo, não foi aberto por um artista da área, por alguém da indústria, mas sim por alguém que só queria fazer a coisa resultar.”

Resultou e conquistou a parceria da Sociedade Americana de Ilustradores, com mais de cem anos de história, um arquivo de excepção e um prédio sem renda, tudo bons negócios. Uma cooperação que permite outra liberdade. Por exemplo?

Estar na Amadora para uma série de conversas com o público, um ano depois de ter organizado, no mesmo sítio, as exposições sobre Batman e o Surfista Prateado, ainda que esse não seja o único campeonato de Klein.

“Nos EUA há uma enorme paixão por tudo o que é super-heróis. Adoro o Wolverine, por exemplo, acho que é uma personagem fantástica. Mas também gosto muito do MAUS. E na Europa existe mais dedicação à história. A BD portuguesa é um bom exemplo. Sou fã do Ricardo Cabral, por exemplo, que tem detalhes incríveis. E o trabalho da Joana Afonso é fora de série. À sua maneira, também são heróis.”