Armando Vara. O negócio de Vale do Lobo correu mal à conta da crise do subprime

Armando Vara. O negócio de Vale do Lobo correu mal à conta da crise do subprime


Armando Vara declinou responsabilidades criminais no negócio do empreendimento de Vale do Lobo. Justifica o negócio e aponta as decisões do conselho de crédito da Caixa Geral de Depósitos. 


Vara falou na crise do subprime para a falta de resultados. O advogado do ex--dirigente socialista manifestou-se contra as medidas de coacção alegando que o seu cliente já tinha sido condenado a prisão (cinco anos no caso Face Oculta) num processo anterior e nunca se furtou às suas responsabilidades nem incumpriu as decisões judiciais impostas pelo tribunal.

O depoimento de Armando Vara junto ao Processo Marquês, que envolve o ex-primeiro-ministro José Sócrates, em Julho deste ano, focou-se na questão de Vale do Lobo e não tanto sobre as suspeitas do Ministério Público (MP). Vara admitiu ganhar cerca de cinco mil euros por mês, ser licenciado em relações internacionais e cooperação, declarando ainda nunca ter recebido contrapartidas sobre este negócio, quando era administrador da Caixa Geral de Depósitos (CDG). 

Armando Vara justifica o mau negócio com a crise do subprime mundial

O arguido no Processo Marquês começou por dizer no interrogatório que sempre se disponibilizou para cooperar com a justiça, pelo que não seria necessário detê-lo. Sobre o empreendimento de Vale do Lobo, referiu que o negócio chegou à CGDcom o envolvimento de Gaspar Freire e Rui Horta e Costa e que assentava numa ideia que, para o ex-dirigente socialista, foi aliciante para a instituição onde trabalhava. 

Segundo Armando Vara, seria benéfico para a CGDentrar numa nova área de negócio que tinha a ver com o imobiliário turístico em Portugal. Seria, no seu entender, uma área de participações com futuro. 

Vara explicou também que estas decisões nunca são aprovadas com uma única assinatura, mas por um colectivo que fazia parte da administração da Caixa e, neste caso, do Banco Caixa Capital.

Na altura, a ideia é que seria uma aposta de futuro. Relativamente a Helder Bataglia, um dos nomes mais referidos, Vara contou que ouviu falar no seu nome. Identifica o empresário como um dos principais financiadores da operação e Rui Horta e Costa como um dos nomes mais prestigiados junto da Caixa Geral de Depósitos.

Quanto à negociação de juros e da taxa associada, o ex-administrador da CGDgarantiu que a decisão passaria sempre pelo conselho de crédito da instituição. Porém, quanto ao facto do negócio ter corrido mal, Vara justifica perante o juiz de instrução que, nessa altura, os negócios imobiliários quase todos tiveram desfecho semelhante devido à crise que naquela altura influenciou todo o mercado imobiliário, designadamente com o subprime. 

Para o ex-governante, o negócio de Vale do Lobo foi uma grande oportunidade de negócio que correu mal, mas não deixa de ter orgulho na opção. 

Sobre o empréstimo concedido pela CGD de 194 milhões de euros, refere que todo o processo foi passado a pente fino pelos organismos oficiais da CGD. 

Explicou que a Caixa Geral de Depósitos passou o negócio a pente fino 

O ex-gestor da Caixa foi mais além e disse, em tribunal, que havia outros bancos dispostos a participar no negócio, sem, no entanto, especificar quais. Relativamente à negociação dos juros, defendeu que baixar as taxas era uma situação normal para manter um cliente.

Quanto a Joaquim Barrroca, um dos envolvidos no Processo Marquês, Armando Vara admitiu que o conhece mas nunca interagiu com ele. Já quanto a Carlos Santos Silva, o amigo empresário amigo de Sócrates, Vara reconhece ter tido contactos em negócios fora de Portugal, designadamente quando trabalhava para a firma Camargo Correia. 

O ex-deputado socialista explicou que abriu um negócio designado por “Anjo Kids” com trocas comerciais para os Estados Unidos, Espanha e Inglaterra. Relativamente a outros negócios internacionais, recordou iniciativas empresariais no Iraque que nunca se chegaram a concretizar. 

Ainda sobre o negócio de Vale do Lobo, Vara lembrou que, nessa altura, todos estavam a vender à pressa depois de se ter verificado a crise do subprime que precipitou as vendas e os maus resultados dos negócios fechados anteriormente. 

NEGÓCIOS DE QUE NÃO FALA 

O Ministério Público ainda tentou que Armando Vara falasse sobre o papel da sua filha Bárbara, mas foi matéria que não quis abordar. Já nas alegações do seu advogado, Tiago Rodrigues Bastos, sobre as declarações do seu constituinte e sobre a medida de coacção que inicialmente implicava a prisão domiciliária, em Julho passado, referiu não se conformar com a ideia de que as explicações sobre o financiamento da CGD a Vale do Lobo não conseguiram colher qualquer aceitação junto do MP, e que levou Armando Vara a discordar profundamente sobre a conclusão dos indícios apresentados.

A defesa de Vara referiu que a partir dos documentos apresentados nos indícios, não resulta que as decisões da CGD tivessem sido influenciadas e determinadas pelo ex-governante socialista.

Segundo a defesa de Vara, também não percebe que o tribunal tenha considerado que o processo negocial entre a CGD e os seus interlocutores relativamente ao empreendimento tenha sido considerado ilícito. Oadvogado acrescentou que os movimentos bancários mais significativos em causa no processo ocorrem muito depois da aprovação da operação e vários meses depois de Armando Vara ter deixado de exercer qualquer função na CGD. 

A defesa do ex-governante socialista referiu ainda que Vara foi condenado noutro processo e nem por isso se furtou a cumprir nenhuma das suas obrigações, uma alusão à condenação no Face Oculta.