Notáveis do PSD contra governo de gestão

Notáveis do PSD contra governo de gestão


Sociais-democratas admitem que, se a esquerda chegar a acordo, Cavaco terá de indigitar António Costa.


O discurso de Cavaco Silva foi entendido como um sinal de que não daria posse a um governo de esquerda, abrindo a porta a manter o executivo de Passos Coelho em gestão, mas mesmo dentro do PSD são cada vez mais as vozes a rejeitar essa solução.

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“É uma hipótese a descartar e uma má solução. Não é viável, porque opaís não pode ficar durante tanto tempo sem Orçamento”, diz ao i Guilherme Silva, convicto de que o chefe de Estado “não fechou a porta a um governo de António Costa”.

Se a moção de rejeição ao programa de governo for aprovada no parlamento, o ex-líder parlamentar do PSD está convencido de que teremos um governo de esquerda, porque “não há alternativa. O sistema está bloqueado e não temos saída para isto”.

O histórico do PSD Ângelo Correia também defende que, perante a rejeição do programa de governo, se existir um acordo entre a esquerda “deve governar o PS”. Mas alerta, em declarações ao i, que “terá de ser um acordo político, e não aritmético, durável, e não pontual”. Só no caso de não existir esse acordo o ex-ministro social-democrata admite a hipótese de “um governo de gestão, com os riscos e as vulnerabilidades que lhe estão associadas”.

Os ex-presidentes do PSD Marques Mendes e Manuela Ferreira Leite também já rejeitaram um governo de gestão. Marques Mendes está convencido que o Presidente nem sequer vai pôr essa hipótese, porque seria “um descalabro”. O conselheiro de Estado acredita por isso que “o PR vai indigitar António Costa para formar governo”. Ferreira Leite alerta que oito meses “é demasiado tempo para um governo em gestão”. Na prática, o novo governo só entraria em funções no início do Verão, já que as eleições só podem acontecer em Abril, e o país só teria Orçamento em Outubro ou Novembro do próximo ano. 

A outra solução seria um governo de iniciativa presidencial, mas dificilmente teria apoio parlamentar. “Qualquer ensaio que o Presidente pudesse fazer para criar um governo de iniciativa presidencial era um vexame para ele, porque iriam boicotá-lo”, diz Guilherme Silva.

O próprio Cavaco Silva, na crise política de 2013, rejeitou essa hipótese com o argumento de que “desde a revisão constitucional de 1982 os governos deixaram de responder politicamente perante o Presidente da República”. A seguir às legislativas, na comunicação ao país, Cavaco voltou a deixar claro: “O Presidente da República não pode substituir-se aos partidos no processo de formação do governo, e eu não o farei”.