Usar células estaminais para recuperar as lesões provocadas por AVC é a missão que vai ocupar investigadores de três instituições de Coimbra nos próximos três anos. A equipa já está assegurada e, melhor que isso, o financiamento também não deverá ser problema. O projecto de investigação viu aprovada a candidatura a fundos comunitários e ficou com um orçamento de um milhão de euros para testar o seu efeito terapêutico em pacientes com AVC (acidente vascular cerebral).
O objectivo passa também por testar o efeito terapêutico “de derivados de células em ensaios pré-clínicos [teste em modelos animais]”, segundo explicou à Lusa Lino Ferreira, do Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra. O projecto, com um consórcio formado pelo Centro de Medicina de Reabilitação da Região Centro, o Hospital Rovisco Pais e a empresa Crioestaminal, procura desenvolver terapias que induzam “a reparação e plasticidade cerebral”, contou o investigador. Significa isto que os cientistas estão à procura do que resulta melhor para regenerar as zonas activas de contactos entre neurónios (estruturas sinápticas) e ainda como conseguir reorganizar toda a arquitectura funcional do cérebro após o AVC, explicou Lino Ferreira.
Actualmente existe apenas um único fármaco aprovado para o tratamento de AVC isquémico agudo. Essa terapia restaura “a perfusão no cérebro isquémico”, mas leva a um “considerável dano no tecido quando o fluxo sanguíneo é restabelecido”, avisa o investigador de Coimbra.
O investigador coordenador do projecto salientou que o AVC “é a segunda causa de mortalidade a nível mundial e nos pacientes que sobrevivem apresenta uma grande taxa de morbilidade”, havendo uma grande probabilidade de, num AVC isquémico, surgir um “défice neurológico motor ou cognitivo que pode ou não voltar à normalidade durante as primeiras semanas”.
Portugal, aliás, é o país europeu com mais casos de AVC, que estão a aumentar sobretudo entre a faixa etária dos 18 aos 35 anos. O estudo do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge divulgado recentemente demonstrou que 40% dos portugueses podem vir a sofrer um acidente vascular cerebral
Segundo o presidente do centro, Vítor Lourenço, a investigação será desenvolvida ao longo de três anos. “É um projecto de investigação do maior relevo”, defendeu, antevendo que os resultados poderão permitir uma recuperação das lesões provocadas por um AVC.
Com Lusa