Uma Capuchinho Vermelho ajeita a maquilhagem para que a vejam melhor. Um stormtrooper segura a cabeça enquanto aguarda pela sua vez de levantar dinheiro. Um Vegeta tenta que o seu cabelo não desabe, com um outro Songoku a observar a tarefa. Se as possibilidades são infinitas, as referências à cultura popular também. É aqui que nos espalhamos: desconhecer a grande maioria dos cosplays (nome técnico para as máscaras dos fãs) presentes no ExCeL London não pode ser um bom indicador. Achar, contudo, que desistimos à primeira é um erro de principiante.
Sendo certo que a Comic Con é o lugar onde os geeks viram criaturas sociáveis – mergulhados num caldeirão de disfarce que os faz ganhar coragem para saírem da cave –, também não deixa de ser verdade que é praticamente impossível passar por uma Comic Con, em qualquer lugar do mundo, sem vislumbrar uma figura que nos diga algo, sem parar para ver uma banca. Agora que já nos assumimos como leigos, falta dizer que isto só faz sentido para nós com o Super Mário e com o Wally. Tentemos encontrá-los no meio desta loucura.
Escalas diferentes Basta um punhado de dias fora da rotina, numa nova e circunstancial realidade, para começarmos a comparar tudo o que existe. E é inevitável admitir que entrar na Comic Con nesta versão londrina nos garante um bilhete automático para comparações com a realidade nacional. Comecemos pelo tamanho: quando olhamos para o recinto desta Comic Con, a única possibilidade é temermos o que se vai seguir. O recinto da Comic Con portuguesa – que aconteceu na Exponor, no Porto, de 5 a 7 de Dezembro de 2014 – era, provavelmente, dez vezes mais pequeno. No ExCeL há salas e mais salas, ora com mesas e rulotes de street food, ora com enormes tendas de onde os videogamers não arredaram pé, ora com as tradicionais bancas de venda de tudo quanto seja merchandising – e aqui a diferença é enorme, quer em dimensão, quer em oferta.
O que já não nos parece coisa assim tão comum é a falta de afluência no painel dedicado à série “Da Vinci’s Demons”. Aqui foi possível ver o primeiro episódio da terceira e última temporada da série, assim como colocar questões ou pedir autógrafos a dois dos actores da série: Blake Ritson (Girolamo Riario) e Elliot Cowan (Lorenzo Medici). Não estavam mais de 100 pessoas na sala. Não sendo esta a série que mais furor fez nos últimos tempos, não é facto que explique tamanho deserto. Algo que viria a ficar esclarecido mais tarde: este era apenas o primeiro dia de Comic Con.
Nunca mais era sábado Pensávamos que na sexta-feira estava muito gente. Enganámo-nos. Quando, sábado de manhã, voltamos ao ExCeL, percebemos a proporção desse erro. Era praticamente impossível andar sem embater na espada ou sem pisar o vestido de alguém. Daí que tenhamos optado por voltar à entrada principal para carregar baterias. Foi aí que encontrámos uma diversão tão nerd quanto incrível. Bastava ter a aplicação certa para jogar Space Invaders num ecrã gigante… isto através do telefone de cada jogador. O high-score ia em 7280 pontos e o dono de tal número era… o responsável pela iniciativa. “Tendo a aplicação, basta esperar que ninguém esteja a jogar. Até agora tem corrido muito bem, há sempre quem tente bater a pontuação recorde, mas como sou eu que a detenho, não me parece que vá ser fácil”, conta Alex.
Por aqui estava também aquele que decidimos coroar como melhor cosplay que vimos. Um rapaz tinha ao peito um placard a dizer “Este cosplay já não está disponível devido a uma queixa sobre direitos de autor da parte da London Comic Con”. Tentámos arrancar um testemunho, algo que não foi possível. “Não posso falar com jornalistas, o meu cosplay não me permite”, disse. Coisa que respeitámos prontamente antes de nos deslocarmos a um dos pontos altos do fim-de-semana: o painel da série “The Walking Dead”, com Greg Nicotero (produtor executivo, realizador e caracterizador) e Ross Marquand (que interpreta Aaron).
Mal estes senhores surgiram da penumbra dos bastidores, a histeria apoderou-se de uma sala repleta de gente, à qual não arriscamos dar um número. Em relação ao painel de “DaVinci’s Demons”, as diferenças são abismais. A boa disposição de Nicotero e de Marquand só reforça o desejo de os curiosos fazerem perguntas, sobretudo procurando saber mais sobre o que ainda vai acontecer na sexta temporada. Algo a que ambos responderam com um óbvio “vão ter de continuar a ver”.
O caricato é que ver Homens-Aranha e Alices no País das Maravilhas a pôr questões aos seus ídolos é, naquele ambiente, menos estranho do que ver alguém sem qualquer tipo de cosplay. No final do painel decidimos abordar alguém à civil, sentado ao nosso lado. “Não tenho cosplay porque sou jornalista”, diz-nos Stuart. Percebemos o óbvio: estávamos em minoria, mas para a próxima será tudo diferente, prometemos.
O i viajou a convite da FOX