Estudioso da área da educação há várias décadas, o professor e investigador na Universidade de Stanford esteve hoje na Fundação Calouste Gulbenkian, onde afirmou que a qualidade do ensino tem efeitos directos no crescimento económico de um país e que os bons professores podem fazer a diferença.
A sua tese baseia-se nos resultados dos alunos no Pisa (os maiores exames internacionais realizados de três em três anos pela OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico) que, segundo Eric, revelam que países mais bem classificados têm taxas maiores de crescimento económico.
Para o investigador, o importante não são os anos de escolaridade obrigatória ou o número de horas de aulas mas sim a qualidade de ensino e essa está muito dependente da qualidade dos docentes.
Eric Hanushek acredita que os docentes têm influência directa no sucesso académico dos alunos e defende que devem ser remunerados de acordo com as suas competências.
No mesmo sentido, Hanushek entende que também os directores deveriam ser premiados quando os seus alunos obtêm bons resultados, num cenário em que os directores seriam responsabilizados pelos sucessos e fracassos dos alunos.
“A qualidade de um director é muito importante na qualidade da escola”, defendeu o autor ou co-editor de 23 livros e cerca de duzentos artigos científicos, entre os quais o estudo que relaciona a educação ao crescimento económico – “The Knowledge Capital of Nations: Education and the Economics of Growth.
Eric Hanushek defende que alunos e professores devem ser avaliados para se poder perceber a evolução de desempenho dos estudantes mas também que “os directores escolares conseguem identificar muito bem quem são os seus melhores e os piores professores”.
Em declarações aos jornalistas à margem da conferência "Educação e Desenvolvimento – Escola e Sociedade", o investigador reconheceu que este é um caminho que “é difícil de chegar lá. Não se chega lá facilmente”.
Depois do investigador norte-americano, que já tinha estado em Portugal em 2013 a convite do Ministério da Educação e Ciência, falaram o escritor Mário de Carvalho, a cientista Maria de Sousa e a artista plástica Ângela Ferreira.
Mário de Carvalho criticou a “coisificação” e a “visão burocrática do ensino que reduz tudo a números, chavetas e gráficos”.
Contra um ensino em que os jovens são formados para servirem de peças de máquinas das empresas, lembrou que “há mundo para além das mercadorias” e que por isso a palavra-chave do ensino é cidadania: “é a formação de cidadãos livres”.
Maria de Sousa defendeu que “existem outras coisas para além do desenvolvimento económico” que não podem ser esquecidas, tais como “o desenvolvimento cultural, o desportivo – que vai muito além do futebol – o estado de saúde dos cidadãos, o tempo médio de vida, os níveis de desigualdade de sociedade”.
“O desenvolvimento é termos escolas que nos igualizam e, ao mesmo tempo, nos preparam para sermos diferentes”, acrescentou, lembrando a importância de “aprender que não se sabe” e de “perguntar e duvidar”.
No final da mesa redonda, quando confrontado com as críticas, o economista Eric Hanushek considerou que as posições “não são incompatíveis” e que “quando a educação melhora, as pessoas têm mais oportunidades para poderem fazer diferentes coisas, podem ser cientistas, escritores ou artistas”
A conferência contou ainda com a presença de outras personalidades como Artur Santos Silva, presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, David Justino, presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE) e Manuela Ferreira Leite, antiga ministra da Educação, de Estado e das Finanças.
Lusa