De berbequim na mão, Manuel João Vieira está entalado entre duas paredes nos preparativos para a abertura do Maxime Sur Mer, a nova morada – e o novo nome – do antigo Maxime, na Praça da Alegria, que recebeu a última festa no início de 2011. Uma soft-opening, é melhor chamarmos-lhes assim, já que a “inauguração oficial será só na segunda semana de Novembro”, diz o próprio Manuel João.
Por enquanto, e durante a próxima semana, o novo espaço pode ser testado com as festas do Doclisboa, que vão acontecer até sábado, 30, noite do afro-baile de encerramento dos Celeste Mariposa. “Desde que o Ritz e o Maxime fecharam que fazia falta uma casa desta escala. Não existem casas médias em Lisboa e aqui vamos poder ter cerca de 500 pessoas”, continua. “Tem capacidade para um público que pode corresponder a um cachê de bilheteira simpático para os artistas.”
A avaliar pelo aspecto da sala, no armazém de uma antiga lota à beira-rio, ninguém diria que dali a 24 horas vai acontecer a festa de abertura do festival. O caos está instalado por toda a parte e a betoneira parece a paisagem mais evidente para posar para uma fotografia.
Dá para perceber, sim, que o espaço terá um enorme palco de madeira ao longo da sala, “com duas asas, que são os balcões”, explica. Manuel João Vieira também preparou umas impressões para as paredes “de uma natureza mais decorativa que artística”. Até porque “não quero ser artista”, sublinha.
Quer, sim, ser o candidato Vieira das próximas eleições (www.vieira2016.com) e continua a recolher assinaturas para esse fim, sempre com o mote “Só desisto se for eleito”, lê-se num dos seus cartazes. “Mas já percebi que é mais fácil apoiar uma candidatura com um partido. Aliás, há um novo partido da maioria dos portugueses que gostava de liderar. Chama-se PA, Partido da Abstenção”, sorri.
É possível que num destes dias, no novo Maxime Sur Mer, encontre uma caixa de recolha de assinaturas do candidato Vieira ou apanhe “um comício ou outro” antes de um concerto.
Ontem, o espaço acolheu a festa de apresentação de “Portugal dos Pequenitos”, o novo álbum dos Irmãos Catita, banda que fundou e que comemora 25 anos de existência, e hoje as atenções vão estar viradas para o guitarrista Phil Mendrix (também dos Irmãos Catita e dos Ena Pá 2000) na festa Psicadélia (Phil Mendrix & Friends), a propósito da estreia do documentário biográfico assinado por Paulo Abreu.
Tal como no anterior Maxime, aqui também podemos contar com “mais cabaré e pequenos teatros”, adianta Manuel João. A ideia é chamar vários tipos de público com uma programação transversal. “É como a cozinha, podemos comer sempre bem se comermos pratos diferentes. Num dia, nouvelle cuisine, no outro um prato regional. Não precisamos de estar a comer sempre o mesmo macarrão.”
“Tentar misturar públicos” e géneros musicais será o objectivo (ontem também aconteceu uma festa dedicada a Daft Punk) e pode ser que a coisa pegue e que a multidão do Cais do Sodré atravesse a estrada e comece a dar vida aos bares das redondezas – por enquanto, só o B.Leza funciona ali ao lado.
E se o anterior Maxime teve problemas com a vizinhança, nesta nova versão à beira-rio (daí o Sur Mer) o barulho não deverá ser um problema e as festas podem acontecer até às seis da manhã.
Será aqui em frente ao Tejo o próximo Cais do Sodré? “Isto aqui é que é o Cais do Sodré. O potencial existe, o problema é que só há aqui um bar e faz falta mais. As pessoas gostam de estar num sítio e de poder andar dez metros para estar noutro. É um bocado essa coisa do Portugal dos Pequeninos: há o Pavilhão de Timor, o Pavilhão de Angola…”
Por falar em Angola, é aqui que a conversa se torna mais séria e deixamos o Maxime para a noite. “Em relação a Angola, gostava de aproveitar a ocasião para protestar contra o facto de os nossos embaixadores e o governo português estarem, de certa forma, a colaborar com o assassínio de um cidadão português que está a fazer greve de fome. Fora os outros cidadãos que, não sendo portugueses, estão a protestar para que haja pluralismo e direito de opinião em Angola.”
O contra-relógio para que as obras estejam prontas a tempo (ficaram prontas) não o vai deixar ir às duas concentrações pela libertação dos activistas presos, mas não deixa de se manifestar como pode. ”Acho que o nosso país não está a fazer nada em relação a isso, como não está a fazer nada em relação a outros países que também violam os direitos humanos. Realpolitik é como se chama a isso, e também se pode chamar cu-lambismo – atenção, não confundir com columbismo.”