José Sócrates afirmou esta tarde num discurso sobre justiça e política em Vila Velha de Ródão que “deve governar quem tem maioria no parlamento” e que “quem não pode governar é quem tem a maioria do parlamento contra si”, recordando que quando o parlamento lhe mostrou que estava em maioria contra ele se demitiu “imediatamente”.
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“E já agora lembro que essa maioria não foi uma maioria construtiva, foi uma maioria negativa, para deitar abaixo um governo e convocar eleições”, acrescentou, recordando também que essa maioria se formou “contra o acordo que o governo tinha feito em Bruxelas, o chamado PEC IV”, um acordo que, em seu entender, “salvava” Portugal de ter de recorrer à ajuda externa. “Pois o parlamento decidiu deitar o governo abaixo. Não me lembro de ninguém a apelar à responsabilidade nem ao sentido cívico. Não ouvi ninguém dizer que houve — desculpem mas vou citar — interesses conjunturais que se sobrepuseram ao superior interesse nacional.”
E continuou na senda de críticas à posição assumida por Cavaco Silva após as legislativas de 4 de Outubro. “Eu sou a favor da NATO, mas sou muito mais a favor de um país onde se possa ser contra a NATO. Eu sou a favor da Europa, mas sou muito mais a favor de um país onde se possa ser contra a Europa.”
Sócrates disse ser “a favor de muitas coisas” mas que o mais importante para si era que todos pudessem discordar delas “e ser respeitados nesse ponto de vista e não ostracizados e desconsiderados dizendo ‘sim, tens direto a um voto e a eleger uns deputados mas isso é apenas para representação’, agora, para governar, só quem acesso ao superior interesse nacional". Um conceito de superior interesse nacional que diz não compreender uma vez que "em democracia o interesse nacional é a conjugação das diferentes interpretações de interesse nacional presentes no parlamento".
“Eu até vos digo outra coisa”, acrescentou o ex-primeiro-ministro perante os aplausos de uma plateia completa já a fechar um discurso que durou cerca de uma hora. “Sou a favor da Constituição, mas também sou mais a favor de um país onde se possa até ser contra a Constituição. Com o que eu ja não me sinto confortável é com ter um país onde pessoas decidem não cumprir a Constituição.”