Tivesse o amigo de chapéu exuberante de “Alice no País das Maravilhas” um nome próprio e esse nome seria, sem grande margem para dúvidas, Philip Treacy.
Detentor de uma genialidade ilimitada para a criação de chapéus, este designer tem agora a sua carreira passada em revista no novo livro “Philip Treacy: Hat Designer”, editado pela Rizzoli. No total são 250 fotografias, assinadas por alguns do mais importantes fotógrafos de moda dos últimos anos, como Patrick Demarchelier, Richard Avedon, Steven Meisel, Mario Testino, Bruce Weber e Irving Penn. Escolhidas pelo próprio Treacy em conjunto com a autora do livro, Marion Hume –, editora de moda da “Australian Financial Review” e colaboradora do “Financial Times”, “Saturday Telegraph Magazine”, “W” e “New York Times” –, estas imagens ilustram os 20 anos de carreira do chapeleiro louco, Philip Treacy. Um percurso marcado pela estreita colaboração – e amizade – com figuras da música, do cinema e da moda, de Alexander McQueen a Isabella Blow, de Grace Jones a Madonna.
Mas este livro não vive apenas de fotos e por estas páginas é possível encontrar também alguns dos episódios mais marcantes da vida do designer que já recebeu a Ordem do Império Britânico por serviços prestados à indústria do design britânico, como o dia em que conheceu Elizabeth Taylor e lhe ofereceu 20 chapéus. “No dia seguinte enviou-me 100 rosas violeta, tal como a cor dos seus olhos, e uma carta: ‘Dear Philip, Amazing creator of hats,
dreamer of dreams, making dreams come true, making our dreams come true, allowing our dreams to become reality. For that we thank you forever. Much love, Dame Elizabeth Taylor.’”
Uma rainha como ídolo
Philip Treacy nasceu em Count Galway, na zona oeste da Irlanda, mas em 1985, com 18 anos, mudou-se para Dublin para estudar moda no National College of Art and Design. Antes, ainda em criança, já gostava de fazer roupas para as bonecas da irmã, mas depois de começar a estudar moda percebeu que, mais do que desenhar vestidos, fatos ou casacos, aquilo que o seduzia eram os chapéus. Pouco depois de uma especialização no Royal College of Art, a então editora de estilo da revista “Tatler” reparou no seu trabalho e convidou-o para desenhar o seu chapéu de casamento.
A partir daqui Treacy tornou-se uma espécie de protegé de Blow, que o apresentou aos maiores criadores de moda do mundo. De Valentino a Ralph Lauren, todos queriam colaborar com o excêntrico designer, que cria chapéus como se de obras arquitectónicas se tratassem. “Todos os chapéus que alguma vez criei começaram como uma fotografia na minha cabeça. Consigo visualizar o chapéu na cabeça de quem o vai usar ainda antes de começar a desenhá-lo”, explica, no seu livro, acerca da sua metodologia de trabalho.
A sua excentricidade desmesurada poderia tê-lo encurralado nos meios mais ligados às artes, mas Philip Treacy conseguiu agradar aos mais e menos convencionais. Por um lado, cria regularmente para a corrida de cavalos de Ascott – conhecida por ser um dos maiores desfiles de chapéus do mundo – e para vários elementos da família real inglesa, como a duquesa da Cornualha e a própria rainha. Aliás, diz mesmo que Isabel II é a pessoa que mais admira no mundo porque “manteve a tradição dos chapéus viva na imaginação das pessoas um pouco por todo o mundo”.
Por outro lado, a sua lista de clientes inclui as maiores estrelas do universo artístico. Sarah Jessica Parker é uma das suas fãs, tendo optado por criações de Treacy para a estreia da versão cinematográfica de “O Sexo e a Cidade”, bem como para várias galas do MET. Também Lady Gaga – que recentemente se tem pautado por um guarda-roupa mais discreto – escolheu Treacy para que criasse modelos para si, entre os quais um chapéu em formato de telefone que a cantora usou num talkshow norte-americano.