Chegamos a uma praia da Região Oeste e vemos alguém na água a deslizar a uma velocidade impressionante e com um power impressionante nas batidas. Só pode ser Mick Fanning, pensamos. Resta-nos esperar que saia da água. Mesmo à distância já não restam dúvidas de que é o australiano – mais ninguém no mundo surfa assim. Bem-disposto, Mick arranja uns minutos para conversar com o i depois de mais um treino, enquanto o Moche Rip Curl Pro Portugal não arranca (adiado pelo terceiro dia consecutivo por falta de ondas em Supertubos).
Fanning é um homem feliz. Sabe-o melhor que ninguém, depois de ter escapado com vida ao encontro com um tubarão na final do J-Bay Open, África do Sul. Depois disso já venceu em Trestles (EUA) e recuperou a liderança do ranking mundial. Com duas provas por disputar, é o único que pode ser campeão em Peniche. Mas este ano o surfista de 34 anos já teve a sua dose de emoção. Estar vivo é a sua maior alegria, e os títulos passaram para segundo plano.
O ano passado as atenções estavam viradas para o Gabriel Medina, que podia ser campeão aqui, e tu acabaste por vencer. Este ano vens com a liderança e és o alvo a abater. Como te estás a sentir nestes lay days do evento?
Estou a sentir-me bem. Tem sido bom ter uns dias de folga [da competição] para voltar a concentrar-me e juntar--me aos outros surfistas. Está tudo a correr bem, espero que o evento comece e que possa avançar.
Pensas que podes ganhar o título mundial em Supertubos ou achas que a decisão será no Havai?
Muitas coisas têm de acontecer para eu ser campeão mundial aqui. Vou fazer o meu trabalho, e basicamente é isso. Não estou propriamente preocupado com o título ser resolvido em Peniche ou não. Acabamos sempre por pensar que tudo se decidirá no Havai, por isso vou dar tudo de mim aqui e ver o que acontece.
Depois do que te aconteceu em J-Bay [episódio com o tubarão, durante a final com Julian Wilson], seria ainda mais especial vencer o título este ano?
É um ano especial, aconteça o que acontecer. É uma daquelas coisas… Sabes, tive um ano divertido, com altos e baixos, mas foi uma temporada boa. Mas vencer o título não significará que este ano foi melhor ou pior que os outros, é uma questão de como vives a tua vida.
Algum adversário que queiras evitar em Peniche?
Este tipo de beach breaks, que mudam facilmente, acabam por equilibrar as coisas. Mas acho que quem está na melhor forma neste momento é o Gabriel Medina, que tem conseguido bons resultados nas últimas provas. Mas não estou preocupado com ele, estou concentrado em mim e no meu trabalho.
Há uns anos disseste que “o surf tem a ver com feeling”. Com o circuito a profissionalizar-se cada vez mais, ainda é possível surfar com feeling na competição?
O profissionalismo é óptimo, não acho que o circuito esteja a ficar demasiado profissional. O surf é uma arte, é uma maneira de te expressares. Às vezes tens dias bons, outras vezes são maus, há alturas em que te apetece falar com as pessoas, há dias em que não estás para aí virado. Somos todos humanos, mas alguns dias tens de engolir em seco e continuar com a vida. Olha, este ano tem sido uma preocupação para mim surfar com emoção, boa ou má, e somente pôr algum feeling naquilo que estou a fazer no oceano.