Insectos. Susana não se importa que leve tempo: é uma questão de confiança

Insectos. Susana não se importa que leve tempo: é uma questão de confiança


Designer portuguesa lançou em 2011 o conceito Insects au Gratin, mas ainda não está nada à venda.


Os insectos surgiram na vida de Susana Soares por acaso. Participou numa exposição sobre o futuro alimentar em Dublin, ouviu u ma palestra e teve uma ideia: porque não criar uma nova classe de alimentos imprimindo comida à base de insectos? Farinha de insectos e uma impressora 3D fizeram o resto e assim nasceu o projecto Insects au Gratin. Em quatro anos, há protótipos mas não está à nada à venda. Frustrante? Nem por isso, diz ao i a designer natural das Caldas da Rainha, radicada em Inglaterra há dez anos: “Os insectos são um produto novo, pelo menos para os ocidentais, pelo que se existir uma falha o consumidor vai perder a confiança.”

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A ideia de Susana era simples: partindo da premissa de que os insectos vão fazer parte do futuro alimentar, como torná-los mais atractivos vencendo os preconceitos estéticos do consumidor? Com esta preocupação em mente, não se limitou a explorar o potencial do design. Tem acompanhado o debate em torno do uso desta fonte de proteína na alimentação na Europa e isso faz com que não esteja nada surpreendida com a recente posição da EFSA. “É uma questão de segurança alimentar”, explica. “É necessário fazer investigação primeiro, antes de colocar os produtos no mercado, e harmonizar práticas de criação de insectos pois vão influenciar o produto consumido, e falhas podem colocar em perigo a saúde de possíveis consumidores.”

Por outro lado, a professora no departamento de Design da Brunel University London admite que a metodologia que está a ser seguida a nível europeu é uma oportunidade para questionar métodos de criação e produção, mas também para diversificar a aposta, diminuindo a pressão sobre o ambiente. “Há cerca de 1200 insectos comestíveis mas, de momento, a pressão está sobre três espécies: grilos, gafanhoto e escaravelho-da- -farinha, pelo que quanto mais diversificarmos, melhor.”

O projecto Insects au Gratin pode ser acompanhado em www.susanasoares.com. Como este, não há muitos mais projectos de origem portuguesa na ainda tímida indústria dos insectos na Europa. Nos últimos anos, os que sugiram foi na área da nouvelle cuisine e parecem ter sido de pouca dura. Em 2013, o chefe Miguel Mendes lançou o movimento Insect Gourmet, com o objectivo de abrir um restaurante em Lisboa com insectos no menu. Nos últimos meses não tem havido novidades sobre o projecto. 

Outra entusiasta é a chefe Patrícia Borges, professora no Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar do Instituto Politécnico de Leiria, que em 2013 chegou a promover um workshop sobre cozinha com insectos. Em Maio, em declarações ao “P3”, Patrícia Borges deu conta de resistências do público em termos de sabor, mas alertou também para o facto de os insectos não serem baratos: um gafanhoto pode custar 22 cêntimos a unidade e depois tem de ser transformado em farinha. Segundo a chefe, enquanto não houver legislação europeia, dificilmente os restaurantes se arriscarão neste segmento.