É sem reservas que o general Ramalho Eanes se refere a Vítor Alves como se tendo empenhado “sem reticências na libertação do homem e da sua sociedade civil de todas as formas de autoridade e repressão, mesmo que legais, que cortam as asas à cidadania activa e participante, sempre exigente e reivindicativa perante o poder político e o mercado, criativa, sem jamais renunciar à utopia nem à revolta”.
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A história desde a sua “Casa dos Corações”, em Mafra, onde nasceu a 30 de Setembro em 1935, revela um percurso que teria, a priori, como refere o ex-Presidente, um destino militar promissor que o levaria certamente ao generalato. O seu casamento em 1962 com Teresa Ferreira de Almeida, filha do almirante último chefe do Estado-Maior das Forças Armadas antes do 25 de Abril de 1974, reforçaria a entrada no meio restrito dos oficiais superiores.
Porém, foi-se afastando das ideias dominantes, mas ainda antes da revolução defendeu hipóteses, sobretudo na altura da Primavera marcelista, para que Portugal pudesse avançar para uma descolonização gradual e pacífica. Cedo percebeu que a única solução seria avançar para a ruptura e, juntamente com Otelo Saraiva de Carvalho e Melo Antunes, assumiu a preparação do golpe militar.
Foi membro da Comissão Coordenadora do Movimento das Forças Armadas (MFA) e, após o golpe de Abril, membro do Conselho da Revolução, ministro nos II e IIIgovernos provisórios, porta–voz do governo, ministro da Educação e Investigação Científica e embaixador itinerante, entre outros cargos. Foi ele, enquanto ministro da Comunicação Social, que aprovou a primeira Lei de Imprensa em Portugal.
Apontado como motor de consensos entre forças armadas, partidos políticos e organismos influentes da sociedade, Vítor Alves teve, em vários momentos pós-25 de Abril, um papel determinante. O“Documento dos Nove”, assinado por Melo Antunes e subscrito por Vasco Lourenço, Sousa e Castro, Pezarat Correia, Franco Charais, Canto e Castro, Costa Neves, Vítor Crespo e ele próprio, marcou a ruptura com os “movimentos” de extrema-esquerda nas forças armadas, então protagonizados pelo general Vasco Gonçalves. Nesse documento recusa-se “o modelo de sociedade socialista tipo europeu oriental” e o “modelo de sociedade social-democrata em vigor em muitos países da Europa ocidental”, e preconiza-se a luta “por um projecto político de esquerda e a construção duma sociedade socialista”.
Foi assediado pelo PCP, PS e PSD, mas foi ao PRD que se juntou como independente. Participou na Civitas, Cidadãos do Mundo e Associação 25 de Abril, de que foi sócio e fundador.
Morreu a 8 de Janeiro de 2011.