Céu. “Não tenho estilo, sou brasileira e somos feitos de mistura”

Céu. “Não tenho estilo, sou brasileira e somos feitos de mistura”


Já tocou no Cool Jazz, em Cascais e no FMM, em Sines. Agora, uma das mais distintas artistas brasileiras dos últimos tempos muda de registo e apresenta-se no Lux Frágil no dia 31.


Perceba-se a delicadeza da mulher aqui presente: pedimos uma entrevista por telefone – sim, que o Brasil ainda fica longe – que acaba por ser cancelada. Dizem-nos que Céu não quer desgastar a voz, tendo em conta os inúmeros concertos que tem dado pelo mundo fora, e se podíamos enviar uma série de perguntas por email – não esquecer o quão estranha pode ser uma tentativa de entrevista por email, mas não falemos disso. A paulista é um daqueles casos em que só podia ter dado nisto. Uma família de artistas fê-la rapidamente ser absorvida pela música que a toda a hora inundava a casa. Com o seu irmão gravou o seu primeiro tema. Aos 18 anos decidiu dar o passe seguinte, influenciada por uma realidade de música popular e erudita. Céu torna-se uma mescla de estilos que dispensam uma categorização. A sua voz é daquelas de ficar a ecoar por meses, quanto ao resto, o Lux Frágil saberá fazer a meias com a própria cantora e banda. Tem um Grammy Latino, tem quatro discos, o último deles “Céu ao Vivo”, que apresenta no dia 31. 

É filha de um maestro e de uma artista plástica. A arte era a única opção? Ou pensou seguir outra profissão? 
Desde criança cresci num ambiente musical. Nossa casa era frequentada por muitos artistas e músicos. Meu irmão mais velho é músico também, foi com ele que fiz as minhas primeiras gravações na adolescência, quando ele me chamava para cantar. Com 18 anos decidi compor minhas próprias músicas e iniciar a minha carreira. A influência e os conselhos da minha família foram muito importantes na minha escolha. 

Recorda o seu primeiro contacto com a música? Quando aconteceu? 
Desde pequena eu ouvi coisas muito maravilhosas como Villa-Lobos, Nazaré e música erudita do Brasil, porque dentro da minha casa vivíamos em um ambiente com muita música. 

Quando decidiu seguir esta carreira? Houve algum momento que a fez despertar para essa realidade? 
Um dia meu irmão mais velho me pediu para testar um esquema de gravação de som, em um home studio que ele tinha montado. Então gravámos juntos uma canção, eu cantando e ele tocando piano. A partir daí comecei a pensar na possibilidade de seguir carreira como cantora. Meu pai também teve muita influência na minha carreira, sempre me motivou a cantar e sempre conversamos muito sobre música. 

Aos 18 anos foi viver para Nova Iorque, onde acumulou uma série de trabalhos. Como foi essa experiência? Quanto tempo foi? Sente que foi essencial no seu percurso pessoal? 
O contacto com a música americana foi uma grande aprendizagem na minha formação musical. Fiquei um ano morando em Nova Iorque e foi uma experiência que me trouxe uma grande bagagem cultural, além de ser uma experiência de vida muito importante. 

Com o seu primeiro disco foi indiciada para um Grammy Latino, numa altura em que era muito pouco conhecida internacionalmente. Como é que se lida com algo desta dimensão? 
Antes de ser indicada ao Grammy Latino já tínhamos lançado meu primeiro disco na França, Alemanha, Holanda e no Canadá. Nesses países fizemos grandes digressões para divulgar o disco e tocamos em grandes festivais. O Grammy Latino foi importante, mas o reconhecimento na Europa foi essencial na minha carreira internacional. 

Atingiu renome internacional depois disso, com uma base de seguidores grande na Europa. Como é que se explica que só agora é que comece a ter mais impacto em Portugal, sobretudo quando vários novos artistas brasileiros (Cícero, Wado, Boogarins, Mallu Magalhães) já têm o seu lugar aqui? 
A minha agenda internacional é sempre dividida com a minha agenda no Brasil e muitas vezes é difícil conseguir visitar sempre todos os países. Já toquei duas vezes em Portugal: uma vez no festival Cool Jazz de Cascais; outra no festival de Sines. Sempre quis voltar a Portugal e fazer mais shows por aqui, é por isso que estou muito feliz em estar de volta, fazendo meu primeiro show fora de um festival. 

No Brasil é quase uma rockstar, canta em inglês e em português, já ganhou inúmeros prémios e enche salas atrás de salas. É perseguida na rua? Gosta desse lado da fama? 
Meus fãs são muito discretos e respeitosos com a minha vida particular. Nunca fui perseguida na rua. 

Parece haver uma enorme preocupação para tentar definir o seu estilo, se é dub, se é trip-hop, se é qualquer coisa completamente diferente. A Céu é pessoa para se importar com essas coisas? 
Não, eu nunca me preocupei em definir o estilo da minha música. O importante para mim é que as pessoas gostem e sejam tocadas pelo meu trabalho. Não tenho estilo, sou brasileira e somos feito de mistura. 

“Vagarosa” foi um disco que a catapultou para um outro nível. O que tem especial? 
O disco foi concebido durante a gravidez da minha filha, por isso é muito especial e delicado. É um disco que tem elementos mais orgânicos e simples. 

Conhece o espaço onde o concerto, vai acontecer, o Lux Frágil, em Lisboa? Ou já ouviu falar? 
Não conheço o lugar, nunca tive a chance de tocar lá. Mas parece ser um lugar de shows de bandas de rock e eu acredito que isso tem muito a ver com o nosso show. 

O que podemos esperar do concerto? 
Nesse show eu vou apresentar o repertório dos meus 10 anos de carreira. Estou muito feliz e empolgada em voltar a tocar em Portugal e espero encontrar todo mundo no show.

 

Lux Frágil
A artista brasileira actua pela primeira vez em Lisboa, no próximo dia 31

Preço 15€
Hora 23h00